domingo, 2 de março de 2008

Começar de Novo


Ai que estou sem alma!

Outra vez este vazio?

Dizem que é falta de inspiração.

Eu chamo falta de imaginação.

Estou habituada a um diário, muito meu, onde escrevo o que se passou, como e o que se vai passar!

Aqui o assunto não se esgota, é o meu dia-a-dia, esse não falha, tanto pormenor e tanta “opinação”. Tem milhões de coisas escritas que geralmente parecem desemparelhadas e misturadas, mas que para mim são coisas encadeadas, têm uma linha condutora. A linha do meu pensamento.

Ás vezes faz-me lembrar as embrulhadas dos textos escritos por António Lobo Antunes. Só que os dele são dele, e na sua maioria lindíssimos, e chegam sempre a uma conclusão lógica. Já os meus… Coitados!

Mas como eu ia dizendo, ele escreve o que pensa e encadeia os pensamentos de uma maneira pouco habitual de se ver.

A tendência da maioria das pessoas, é para tentar organizar os pensamentos antes de os dar a conhecer.

ALA, não parece nada ralado com esse assunto. Organizar o que não é minimamente organizável, não tem razão de ser. É preciso explicar muita coisa e perde-se o fio condutor em explicações. Se conseguirmos seguir a corrente do seu pensamento chegamos onde ele nos quer levar, na maior das anarquias. É assim que ele chega a ter graça (e ALA que me desculpe, mas é exactamente o sinto quando o leio).

Ora! Perdi-me novamente.

Ia eu dizendo que, escrevo uma data de trapalhadas no meu diário que, para os outros parece o caos, mas que para mim não é. E escrevo páginas e páginas seguidas, tão depressa que como palavras. Mas mais vale comer palavras que pensamentos! Isto na altura claro.

Misturo sentimentos com acontecimentos, momentos com sonhos, desejos com ilusões, factos com quadros, cenas com vistas. Enfim…

Aqui vai um pequeno exemplo, um fragmentozinho do que escrevi hoje no meu diário:

Hoje olhei para o céu e nele vi a desordem do dia. Comecei por vislumbrar a Lua, no meio de uma aberta de nuvens, em pleno dia.

A mistura do céu azul a atirar para o turquesa, a aparecer em nesgas no meio de cinzentos de todas as tonalidades, os verdes das várias ramagens e folhagens, que agora começam a aparecer, juntamente com todos as outras cores desconcertadas e desordenadas, encarnados nos telhados, cor de laranja nas fachadas, preto das estradas, castanhos secos, vivos, desmaiados, mesclados e afins. Todo este tumulto me fez lembrar os dias de praia com muito vento. Em que o vento a passar nos ouvidos nos fazem ficar confundidos mentalmente, o mar desarrumado confundidos visualmente, o frio e a humidade que deixam a areia colada ao corpo confundidos fisicamente.

O que geralmente me parece bonito, hoje acordou desarrumado e descoordenado.

O desconforto visual, rapidamente se transformou desconforto físico e a concentração foi para o espaço.

E como uma coisa nunca vem só, tudo se desmoronou à minha volta, num rodopio de acontecimentos precipitados que me deixou deveras irritada. Esta situação fez-me lembrar o anúncio da DOVE.

Nestas alturas deve-se fazer um rewind.

Fechar os olhos, inspirar e expirar fundo, fazer vir à lembrança coisas boas da nossa vida e, com calma, começar de novo.




"Começar de novo e contar comigo
Vai valer a pena ter amanhecido
Ter me rebelado, ter me debatido
Ter me machucado, ter sobrevivido
Ter virado a mesa, ter me conhecido
Ter virado o barco, ter me socorrido

Começar de novo e só contar comigo
Vai valer a pena ter amanhecido
Sem as tuas garras sempre tão seguras
Sem o teu fantasma, sem tua moldura
Sem tuas escoras, sem o teu domínio
Sem tuas esporas, sem o teu fascínio
Começar de novo e só contar comigo
Vai valer a pena já ter te esquecido
Começar de novo..."

(Iven lins)



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