terça-feira, 29 de março de 2011

Logica de Mulher


Conhecer implica aproximação. Aproximação implica criar ligações. Criar ligações implica vivências. Vivências implicam experiências. Experiências implicam gostar ou não gostar e ter opiniões. Ter opiniões implica emiti-las. Emiti-las implica confiança. Confiança implica cumplicidades. Cumplicidades implicam cruzar de olhares. Cruzar e olhares implica ver. Ver implica estar atento. Estar atenta implica ter interesse, ter interesse implica…

Será isto ser-se MULHER?

Que imbróglio.

Já percebo os Homens!

Parem-me esta cabeça...

Tenho de tentar explicar a mim própria que nem tudo tem de ter lógica.

segunda-feira, 28 de março de 2011

Tristeza


Os passos não abrandaram
Seguiram leves como a vontade
Vincaram a intenção de um querer
Deixando o frio de um sorriso pendurado

segunda-feira, 21 de março de 2011

Poesia


No dia Mundial da Poesia dois Poemas:

Num meio-dia de fim de Primavera
Tive um sonho como uma fotografia.
Vi Jesus Cristo descer à terra.

Veio pela encosta de um monte
Tornado outra vez menino,
A correr e a rolar-se pela erva
E a arrancar flores para as deitar fora
E a rir de modo a ouvir-se de longe.

Tinha fugido do céu.
Era nosso demais para fingir
De segunda pessoa da Trindade.
No céu era tudo falso, tudo em desacordo
Com flores e árvores e pedras.
No céu tinha que estar sempre sério
E de vez em quando de se tornar outra vez homem
E subir para a cruz, e estar sempre a morrer
Com uma coroa toda à roda de espinhos
E os pés espetados por um prego com cabeça,
E até com um trapo a roda da cintura
Como os pretos nas ilustrações.
Nem sequer o deixavam ter pai e mãe
Como as outras crianças.
O seu pai era duas pessoas -
Um velho chamado José, que era carpinteiro,
E que não era pai dele;
E o outro pai era uma pomba estúpida,
A única pomba feia do mundo
Porque não era do mundo nem era pomba.
E a sua mãe não tinha amado antes de o ter.
Não era mulher: era uma mala
Em que ele tinha vindo do céu.
E queriam que ele, que só nascera da mãe,
E nunca tivera pai para amar com respeito,
Pregasse a bondade e a justiça!

Um dia que Deus estava a dormir
E o Espírito Santo andava a voar,
Ele foi à caixa dos milagres e roubou três.
Com o primeiro fez que ninguém soubesse que ele tinha fugido.
Com o segundo criou-se eternamente humano e menino.
Com o terceiro criou um Cristo eternamente na cruz

E deixou-o pregado na cruz que há no céu
E serve de modelo às outras.
Depois fugiu para o Sol
E desceu pelo primeiro raio que apanhou.
Hoje vive na minha aldeia comigo.
É uma criança bonita de riso e natural.
Limpa o nariz ao braço direito,
Chapinha nas poças de água,
Colhe as flores e gosta delas e esquece-as.
Atira pedras aos burros,
Rouba a fruta dos pomares
E foge a chorar e a gritar dos cães.
E, porque sabe que elas não gostam
E que toda a gente acha graça,
Corre atrás das raparigas
Que vão em ranchos pelas estradas
Com as bilhas às cabeças
E levanta-lhes as saias.

A mim ensinou-me tudo.
Ensinou-me a olhar para as coisas.
Aponta-me todas as coisas que há nas flores.
Mostra-me como as pedras são engraçadas
Quando a gente as tem na mão
E olha devagar para elas.

E depois, cansado,
O Menino Jesus adormece nos meus braços
E eu levo-o ao colo para casa.

Ele mora comigo na minha casa a meio do outeiro.
Ele é a Eterna Criança, o deus que faltava.
Ele é o humano que é natural,
Ele é o divino que sorri e que brinca.
E por isso é que eu sei com toda a certeza
Que ele é o Menino Jesus verdadeiro..."
(Alberto Caeiro - Fernando Pessoa)



"Esperei que adormecesses para te escrever
Peguei-te na mão
Encostei-me junto a ela
Desta vez em silêncio
Não haviam gritos que me calassem
Nem as portas que bates com tal violência
Podia sentir-te respirar descansada
E eu de mão dada contigo
Podia sentir-me gritar-te
Sentia o meu coração agitado
Rebentar as portas que foste fechando
Permaneci de corpo inerte
E lágrimas estendidas
Até sentir a força de te deixar escrita esta ultima carta
Adeus"
(José F. Machado)

sexta-feira, 18 de março de 2011

O meu Sonho


(Definitivamente a culpa é da Lua)

Não preciso de mais sonhos, já tenho o meu sonho.

Não é um sonho qualquer, é o meu sonho vivido e sonhado, é o sonho que me acompanhou a vida inteira. Um sonho de todos os dias, construído de pequenos nadas vindos de dentro de mim, que foram delineando uma imagem e criando uma percepção tão real que dele conheço cada gesto, cada passo, cada olhar, cada frase, cada canto.

Não, efectivamente este sonho, não é um sonho qualquer. É uma realidade vivida dia após dia. Mês após mês, ano após ano. Este sonho é uma vida, a minha vida.

Hoje olhando para o lado, vejo com que pormenor ele foi feito, com que amor ele foi vivido, percebo que me acompanhou nos bons e maus momentos e o quanto me fez companhia. Foi ele que me suportou, quando estive doente, quando me senti sozinha, quando me ri, quando cantei, quando estive triste, foi ele que me manteve de pé e me acordou todas as manhas.

Já não saberia viver sem ele.

quinta-feira, 17 de março de 2011

Acima de tudo



Deve ser desta Lua enorme.
Não importa se é bom se é mau. Não importa se reflecte os pensamentos ou os sentimentos, não importa se as pessoas gostam ou não gostam, não importa se vêm ou não vêm, se o sentem ou não o sentem, se o lêem ou não. Importa que o escrevi sem olhar, sem emendar, sem pensar. Foi o que saiu. Amanha ou depois de amanha ou num destes dias, se ele sair daqui, é porque o reli e ele não me disse nada.

"Acima de tudo
O meu sonho
Por ele perco-me hoje
Como me perdi ontem

Acima de tudo
A minha loucura de te querer
Que me ensina a resistir
E congela o meu desejo
Só para não te perder

Acima de tudo
Quero guardar-te
Quero guardar-nos
Porque acima de tudo
Já não saberia viver sem sonhar"

Eu que me Aguente Comigo


"Eu que me Aguente Comigo

Contudo, contudo,
Também houve gládios e flâmulas de cores
Na Primavera do que sonhei de mim.
Também a esperança
Orvalhou os campos da minha visão involuntária,
Também tive quem também me sorrisse.
Hoje estou como se esse tivesse sido outro.
Quem fui não me lembra senão como uma história apensa.
Quem serei não me interessa, como o futuro do mundo.

Caí pela escada abaixo subitamente,
E até o som de cair era a gargalhada da queda.
Cada degrau era a testemunha importuna e dura
Do ridículo que fiz de mim.

Pobre do que perdeu o lugar oferecido por não ter casaco limpo com que aparecesse,
Mas pobre também do que, sendo rico e nobre,
Perdeu o lugar do amor por não ter casaco bom dentro do desejo.
Sou imparcial como a neve.
Nunca preferi o pobre ao rico,
Como, em mim, nunca preferi nada a nada.

Vi sempre o mundo independentemente de mim.
Por trás disso estavam as minhas sensações vivíssimas,
Mas isso era outro mundo.
Contudo a minha mágoa nunca me fez ver negro o que era cor de laranja.
Acima de tudo o mundo externo!
Eu que me aguente comigo e com os comigos de mim."

Álvaro de Campos, in "Poemas"
Heterónimo de Fernando Pessoa

Musicas que me tiram do sério


Otis Redding-Sitting on the dock of the bay

terça-feira, 15 de março de 2011

Ser ou não ser


Já estou baralhada só de pensar no que estou a querer escrever


Ora a ver se me entendo.

Desde que acordamos até que nos deitamos não fazemos outra coisa que não escolhas. Escolhas para trás, escolhas para a frente. Escolhas a cada segundo que mexemos os olhos, os pés ou mesmo a cabeça. Escolha das palavras, das pessoas com quem falamos, com quem estamos, do que queremos, do que podemos...

Umas das escolhas são mais pensadas que outras ou melhor, umas são intrínsecas ao nosso estilo de vida, outras são contra os nossos ritmos, logo umas não exigem o que pensar ou muito pouco, outras implicam decisões complicadas que nos obrigam a sair de nós muito mais do que aquilo que sabemos e podemos.

Tudo isto, veio a propósito de uma conversa que me apetecia ter e achei que não podia.

Em condições normais de ontem nem teria pensado, era dado adquirido. Nas condições de hoje a conversa não teve lugar. É a famosa frase “quem casa não pensa, quem pensa não casa.”

Chega a ser triste quando se pensa. O que se tinha e o que se tem, o que se vive e o que se deixa de viver.

O que nos faz retrair? O que nos faz avançar? O que nos faz ter confiança e acreditar? O que nos desilude e nos faz esconder? O que nos desassossega?

A sensação é de que quando a mentira ou o esconde-esconde começa, nada fica igual para sempre.

O jogo é este: Sê, enquanto podes, porque logo logo tens de representar forte e feio, e como é bom ser-se como se é!

Serão escolhas?

Só existem dois caminhos: Ser ou não ser, eis a questão. Já dizia William Shakespeare

domingo, 6 de março de 2011

Desordem


Às vezes olho para dentro de mim e pergunto-me porque é que as coisas acontecem como acontecem, porque é que as coisas têm de ser como são, porque será que não conseguimos mudar o rumo dos acontecimentos, porque não temos coragem para dar a volta e continuar a ser o que sempre fomos. Porque é que temos de nos conter, porque é que não podemos deixar que as nossas emoções se soltem e sigam os seus trilhos, que o nosso coração se abra e abrace as suas causas, porque é que as palavras têm de ficar trancadas, os pensamentos retidos. Porque é que não dizer o que nos vai na alma magoa tanto.

Não gosto mesmo de ter medo das pessoas de quem gosto. Odeio não conseguir perceber se sou bem-vinda ou se sou um peso difícil de aturar. Odeio perceber que a camada de insegurança é tal, que as coisas deixam de ser feitas com o coração e passam a ser feitas com a razão, ou melhor, deixam de ser feitas, “tout court”. Odeio perceber que os meus ombros se encolhem e que a tensão e a ansiedade se acumulam sempre que me deparo com estas situações. Odeio não ser forte, odeio sentir-me actriz a desempenhar papeis que não são os meus. Odeio pensar uma coisa e não dizer.

Odeio quando me sinto assim.