quinta-feira, 31 de maio de 2012

Abrir uma porta

Hummmm... Gostei!

"Não sei quando virá o amanhecer, por isso abro todas as portas" 
(EMILY DICKINSON)

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Intangível


Há pessoas intangíveis. Neste momento, na minha vida, tenho uma.
Nunca consegui perceber porque é que essa sensação se instala em mim. Fico sem reacção, sem conversa, sem qualquer tipo de inteligência emocional, sinto-me pequena, sem voto na matéria, insignificante, deixo-me ir, oiço, bebo as palavras e os passos, fico completamente rendida à força e à segurança que emana e tenho uma vontade imensa de agradar e de estar, mesmo que calada. Não a sinto e isso faz-me confusão. Deixo de ter os meus sensores activos e fico sem saber se sou bem vinda, se sou “persona non grata”, se posso falar se devo manter-me calada. Deixo de ter discernimento e bom senso. Estou ciente de que fico sem graça, sem interesse, amorfa, mas não consigo mudar o rumo. Consigo sim, sorrir e ficar tão quieta quanto me é permitido para não ser notada e assim prolongar os momentos sem muitos estragos.
Hoje percebi: uma admiração profunda e um medo enorme de não ser aceite.
Porquê?
Não sei...

E tudo começa outra vez

«Quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias,
a que se deu o nome de ano,
foi um indivíduo genial.
Industrializou a esperança,
fazendo-a funcionar no limite da exaustão.
Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar
e entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação
e tudo começa outra vez, com outro número
e outra vontade de acreditar
que daqui para diante,
vai ser diferente.»

(Carlos Drummond de Andrade)

terça-feira, 22 de maio de 2012

Caderninho


"O meu mundo não é como o dos outros, quero demais, exijo demais, há em mim uma sede de infinito, uma angústia constante que eu nem mesmo compreendo, pois estou longe de ser uma pessimista; sou antes uma exaltada, com uma alma intensa, violenta, atormentada, uma alma que se não sente bem onde está, que tem saudades... sei lá de quê!"

(Florbela Espanca) 

Há pessoas e coisas que são dignas de serem guardadas no nosso coração para o resto das nossas vidas. Aquelas que um dia nos tocaram e nos fizeram sentir alguma coisa de bom. 
  

segunda-feira, 21 de maio de 2012

“nothing box”


Há coisas que vêm a calhar.

No outro dia lembraram-me e muito bem que existe um espaço na nossa cabeça completamente vazio, a “nothing box” e que, de vez em quando, se entra em “nothing box mode”.

Nunca pensei muito nisto, confesso. Um dia mostraram-me os filmes do youtube, achei graça, ri que nem uma perdida, encaixei e por ali ficou. Não relacionei minimamente.

Agora o assunto voltou à baila e numa simples afirmação eu senti exactamente o que é estar neste “mode”. Na minha linguagem sempre lhe chamei “estar oca”.

Nunca me senti muito bem quando entro neste campo. Sinto-me estúpida, sem conversa, sem ideias, sem pensamentos, sem vontades, sem nada. Deixam-se espaços em branco que só é possível serem vividos em conjunto quando se tem um grande à-vontade no silencio. Se são momentos é mais fácil de disfarçar, se são fases a coisa complica-se e aí, fecho-me no meu mundo. Estes brancos nunca são muito bem vistos vindos da condição feminina.

Hoje, dei por mim sentada na varanda com uma parede à frente dos meus pensamentos. Mal os pressentia eles batiam nela e faziam ricochete voltando para o lugar que lhes pertencia. Quando isto acontece ponho-me geralmente em sentido e tento contrariar e não deixar a cabeça parar.
Estar Oca só me é permitido quando tenho afazeres que me permitam não mostrar aos outros o meu estado. Tirar fotografias é uma delas.
Hoje não, hoje deixei-me dessas coisas, atirei para trás das costas o que podem ou não pensar e dei-me espaço. Não me apetecia ter a cabeça cheia, esvaziei-me. Todas as ligações emocionais entrelaçadas entre si, desligaram-se e eu senti a realidade em directo, sem passado, sem futuro.
Surpresa! Senti-me liberta ou melhor senti nada e nada soube-me bem. Foi então e depois de umas horitas valentes neste “mode” que tomei consciência e percebi que estava na minha “nothing box”. Ela existe também para mim e desta vez não me senti mal, afinal "nothing box" é "nothing box" e não há nada de mal nela.



quarta-feira, 16 de maio de 2012

A régua da amizade

De facto a régua da amizade é muito ingrata.

As diferentes medidas, intensidades e interesses não ajudam ao seu bem-estar e equilíbrio. Geram inseguranças e medos que fazem com que certos filtros e escudos sejam levantados tirando toda a simplicidade de um relacionamento.

É tão raro chegar a um equilíbrio que me pergunto se isso é, de alguma forma, possível?

Os meus sonhos dizem-me que sim. Esse equilíbrio existe e por isso, na minha ingenuidade e simplicidade, ando permanentemente à procura dele. Já a realidade é bem outra. Não esse equilíbrio não existe é só um sonho bonito que se aprende nos contos de fadas. Sempre que acho que estou lá quase a vida ensina-me que não.
Os sonhos podem ser muito traiçoeiros. Fazem-nos ver aquilo que queremos e não aquilo que na realidade é e depois as desilusões são umas atrás das outras.
É uma desordem!
  
"Amor
Às vezes as palavras saem de mim sem pensar
Hoje saiu-me amor
E eu amei-te
Tão verdadeiramente como podia na altura
Sabia que eras tu que aparecias no olhar
E que toda a parte boa do sol te iluminava
Desejava ter-te mais do que o desejo concebia
E descobria-te no mais leve sopro de memória
E amava-te
Tão simplesmente sentia o que era o amor
E eras tu

Porque o pensamento não conhece o olhar e nem sempre fala com a memória
Chamei-te amor
E era tarde"


(José F. Machado em Eu antes de mim)

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Mudança



Parece impossível, ainda ontem estive a pensar no tanto que mudamos ao longo dos anos sem dar por isso. Passo a passo é imperceptível. Esta mudança só se torna visível quando voltamos atrás no tempo. Quando vimos fotografias de outrora, lemos diários, cartas ou outras coisas que tais que nos projetam para tempos idos. Aí sim conseguimos ver as diferenças que se operaram e notar o peso e o tamanho da mudança.
A verdade é que a verdade muda todos os dias pela carga de conhecimento que obtemos diariamente. Este processo é geralmente um processo silencioso mas muito profundo.
Muda-nos a vida, muda-nos a maneira de pensar, a forma de agir. Muda-nos os quereres e as vontades, muda-nos a mentalidades e como tal muda-nos a forma de ver o mesmo objecto, a mesma paisagem, o mesmo canto da sala. 
A carga emocional que pomos em cima de cada coisa, faz com que essa coisa deixe de ser a mesma. E quem diz coisas diz pessoas. 

"A Verdade é um Modo de Estarmos a Bem Connosco
Cada época, como cada idade da vida, tem o seu secreto e indizível e injustificável sentido de equilíbrio. Por ele sabemos o que está certo e errado, sensato e ridículo. E isto não é só visível no que é produto da emotividade. É visível mesmo na manifestação mais neutral como uma notícia ou um anúncio de jornal. Donde nasce esse equilíbrio? Que é que o constitui? O destrói? Porque é que se não rebentava a rir com os anúncios de há cento e tal anos?   (Rebentámos nós, aqui há uns meses, em casa dos Paixões, ao ler um jornal de 186...). Mas a razão deve ser a mesma por que se não rebentou a rir com a moda que há anos usámos, os livros ridículos que nos entusiasmaram, as anedotas com que rimos e de que devíamos apenas rir. O homem é, no corpo como no espírito, um equilíbrio de tensões. Só que as do espírito, mais do que as do corpo, se reorganizam com mais frequência. Equilibrado o espírito, mete-se-lhe uma ideia nova. Se não é expulsa, há nela a verdade. Porque a verdade é isso: a inclusão de seja o que for no nosso mecanismo sem que lhe rebente as estruturas. Ou: a coerência de seja o que for com o nosso equilíbrio espiritual. A verdade é um modo de estarmos a bem connosco. Mas é um mistério saber o que nos põe a bem ou a mal. Os anúncios de há cem anos eram ridículos porque sim. Nos meus escritos de há anos, mesmo nos ensaios, aquilo de que me separo não são muitas vezes as ideias, a argumentação, mas um certo modo de se olhar para os argumentos, os problemas, um certo nível humano de encarar as coisas. Leio um ensaio de há vinte anos e sinto que eu tinha menos vinte anos. Há um nível etário para a mesma verdade nos existir. A verdade de que falei há vinte anos é-me exatamente a de hoje; e todavia há um desfasamento no modo como corri para ela e me entusiasmei com ela e me comovi com ela. Tudo agora me acontece ainda mas num registo diferente. Não é em si que as verdades envelhecem: é com as rugas que temos no rosto e na alma."
Vergílio Ferreira, in "Conta-Corrente 2"

domingo, 13 de maio de 2012

É como um Sonho



É impressionante como os sonhos da noite correm à velocidade da luz e desaparecem de igual forma sem deixar rasto no momento em que a razão desperta.
O mesmo acontece com as ideias, se não as recapitularmos no segundo elas desaparecem para todo o sempre e nem a sensação que nos percorreu enquanto os pensamentos estiveram dentro de nós nos safam.
Ontem, foi o que me aconteceu. Lembro-me do momento em que ela nasceu, lembro-me da sensação forte que provocou e lembro-me de a tentar agarrar e de ela se escapar no meio de outras tantas que por lá andavam. Foi-se o pensamento e ficou a sensação.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Hoje

Ai hoje....
Hoje deu-me para isto!
Hoje, as palavras não me saem e tenho um monte de coisas para dizer.
Hoje, encontro as palavras certas espalhadas por ai e apetece-me rouba-las.
Hoje, queria ter sido eu a dizer tanta coisa…
Hoje…
Hoje, vou ficar por aqui com estas palavras roubadas
E vou à procura de outras, sobre coisas que gostaria de ter falado e que calei.


"Ninguém Se Conhece a Si Mesmo Julga que se conhece, se não se construir de algum modo? E julga que eu posso conhecê-lo, se não o construir à minha maneira? E julga que me pode conhecer, se não me construir à sua maneira? Só podemos conhecer aquilo a que conseguimos dar forma. Mas que conhecimento pode ser esse? Não será essa forma a própria coisa? Sim, tanto para mim como para si; mas não da mesma maneira para mim e para si: isso é tão verdade que eu não me reconheço na forma que você me dá, nem você se reconhece na forma que eu lhe dou; e a mesma coisa não é igual para todos e mesmo para cada um de nós pode mudar constantemente. E, contudo, não há outra realidade fora desta, a não ser na forma momentânea que conseguimos dar a nós mesmos, aos outros e às coisas. A realidade que eu tenho para si está na forma que você me dá; mas é realidade para si, não é para mim. E, para mim mesmo, eu não tenho outra realidade senão na forma que consigo dar a mim próprio. Como? Construindo-me, precisamente."

Luigi Pirandello, in "Um, Ninguém e Cem Mil"

Um Poema de Neruda




"Se Me Esqueceres Quero que saibas
uma coisa.

Sabes como é:
se olho
a lua de cristal, o ramo vermelho
do lento outono à minha janela,
se toco
junto do lume
a impalpável cinza
ou o enrugado corpo da lenha,
tudo me leva para ti,
como se tudo o que existe,
aromas, luz, metais,
fosse pequenos barcos que navegam
até às tuas ilhas que me esperam.

Mas agora,
se pouco a pouco me deixas de amar
deixarei de te amar pouco a pouco.

Se de súbito
me esqueceres
não me procures,
porque já te terei esquecido.

Se julgas que é vasto e louco
o vento de bandeiras
que passa pela minha vida
e te resolves
a deixar-me na margem
do coração em que tenho raízes,
pensa
que nesse dia,
a essa hora
levantarei os braços
e as minhas raízes sairão
em busca de outra terra.

Porém
se todos os dias,
a toda a hora,
te sentes destinada a mim
com doçura implacável,
se todos os dias uma flor
uma flor te sobe aos lábios à minha procura,
ai meu amor, ai minha amada,
em mim todo esse fogo se repete,
em mim nada se apaga nem se esquece,
o meu amor alimenta-se do teu amor,
e enquanto viveres estará nos teus braços
sem sair dos meus."

(Pablo Neruda, in "Poemas de Amor de Pablo Neruda")

terça-feira, 1 de maio de 2012

Nuvens




O pior de escrever sobre os sentimentos é por nas palavras os sentidos que queremos e, mais ainda, é deixar no ar o que sentimos, sendo explícitos sem o ser.