sexta-feira, 11 de abril de 2008
Não vem ao caso dizer
Ai,"Não vem ao caso..."
Aqui está outro poema que roubei no cantinho da Júlia Moura Lopes, e que nem consigo definir muito bem o choque, o embate forte que senti quando o li.
Isto acontece-me de quando em vez e só com alguns poemas.
É engraçado como nunca tendo estado em contacto com poesia, anteriormente, logo não conhecendo, não sabendo quem é quem, não compreendendo os seus meandros e as suas estranhas “produções”, consigo, ou acho que consigo, entender tão bem a força com que cada palavra foi escrita. A dor e o amor que cada palavra tem, o mel e o fel que por vezes lhes está associado e a inquietação que cada palavra provoca num coração desejoso de compreensão.
"Não vem ao caso dizer quanto te amo
aperto o sol no peito e não és tu
que noite nos meus braços se te chamo
que vestido de sombra em corpo nu.
Não vem ao caso dizer que sinto frio
se amanheço ao teu lado e tu não estás
e escrevo um poema que ninguém ouviu
com as palavras que não sou capaz.
Não vem ao caso dizer que ainda te espero
como quem espera um filho que morreu
digo que te desejo e não te quero
digo que não te quero e não sou eu. "
António Lobo Antunes
Fado de Coimbra N.º4
Postado por Júlia Moura Lopes
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
2 comentários:
Que bom que gostou!...
beijinho e bom fim de semana!
É um poema fortíssimo, Sum. E não é preciso perceber de poesia (no sentido intelectual da afirmação) para entendê-la e deixar-se tocar por ela. Pelo contrário, pode até "receber" um poema com muito mais intensidade do que um entendido, que tem tendência para analisá-lo e compará-lo com outros mesmo antes de se deixar tocar.
Acho que é um bocadinho como a pintura.
Um beijinho
Enviar um comentário