sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Falar Sozinha


Dei por mim a falar sozinha outra vez.

Dantes achava estranho ver as pessoas a falarem sozinhas. Achava mesmo que só os malucos é que o faziam. Até que um dia dei por mim a fazê-lo e pensei:
- Ai! Estou a ficar doida?
Disfarcei durante uns tempos, tentei não dar muita importância ao facto, mas a coisa foi piorando. Vi jeito de pedir para me internarem.
Até que um dia aceitei e percebi que não é maluqueira passível de internamento mas sim coisa própria da idade.

Hoje, já não há dia que não o faça, mas já compreendi que o faço quando quero entender o que se passa ou quando preciso de aliviar a pressão instalada.

Dantes não dava tanta importância às coisas, havia um todo de coisas novas pela frente. Elas corriam como tinham de correr. Não questionava. Às vezes lá tentava mudar o mundo… mas ele nunca me ligou nenhuma. Assim, eu continuava o meu percurso tipo furacão.

Hoje, questiono e tento perceber, fico indignada, mas não tento mudar o mundo. Descarrego sobre ele em voz alta, à laia de oração na esperança que alguém lá em cima me oiça e me acuda.

Dantes confiava no mundo.

Hoje nem na minha sombra pareço confiar.

Dantes achava que tinha amigos e era com eles que comentava, procurava ajuda, compreensão, companhia, entendimento, conselhos, um ombro.

Hoje percebi que amigos… Amigos há poucos! O melhor amigo de mim, sou eu mesma. Eu tenho paciência para mim, eu consigo ouvir-me, eu desabafo comigo mesmo, eu tenho o meu ritmo, eu compreendo-me, eu entendo os meus problemas, eu e só eu é que os posso resolver. Ter ombro ou não ter ombro não é importante. Se tiver tenho, tanto melhor. Se não tiver… Amigos como dantes.

Enfim, à medida que se vai vivendo, e se vai conhecendo o mundo à nossa volta e as pessoas que nele habitam, vai-se entendendo que o facto de precisarmos uns dos outros para construir qualquer coisa não invalida o facto de reconhecer que só nós nos valemos a nós próprios, só nós nos podemos ajudar, só nós podemos andar para a frente.

Assim sempre que me virem a falar sozinha, já sabem, não estou propriamente maluquinha, só um bocadinho descompensada com a vida.

2 comentários:

Nat-san disse...

Perfeito ^_^, o fato de precisarmos uns dos outros não invalida nossa auto-suficiência, sobreviveriamos sozinhos, mas somos melhores acompanhados ^_^...

Quanto a falar sozinha, ahh conheço muitas pessoas que o fazem, eu mesma por sinal sou a adepta do movimento fale consigo mesmo ^_^

sum disse...

:))