domingo, 31 de outubro de 2010

Dias...

Estive distraída por bastante tempo, tanto que nem me dei conta do dia ter passado. Hoje sim consegui estudar, pelo menos um bocadinho, pratiquei outro bocadinho e ainda tive direito a um momento de fim de tarde seguido de uma mini sesta à lareira

Sonhei! Sonhei um sonho deveras estranho. Uma estrada a direito, linda, cheia de árvores de um lado e de outro, copas enormes e densas a fazerem túnel. A estrada era tão comprida que não lhe via o fim. Eu andava, andava e não encontrava o que me levava a andar. Via lá no fundo um aparato estranho e muitas luzes azuis, mas o silêncio reinava, só se ouviam os passarinhos e os sons das folhas a abanar com o vento. Sentia-me tão longe e quanto mais andava mais longe me sentia e as luzes lá estavam, tão longe como quando tinha começado. Não conseguia lá chegar, não conseguia saber o que se passava, a preocupação aumentava a cada passo. Acordei sobressaltada e angustiada.

Irra… Que sensação de impotência! Que coisa tão estranha.

Não é costume sonhar com coisas assim por estas bandas. Por aqui, geralmente reina a paz, o silêncio, a calma, a doçura, a serenidade.

Não fora este sonho e o dia tinha-se passado como tantos outros por aqui.

sábado, 30 de outubro de 2010

Chuva

Hoje deu-me para estudar. Sim, estudar! 

Chuva lá fora, lareira acesa, paz no pedaço, tempo para tudo.
 
Preparei o estamine, espalhei os papeis, as canetas, o bloco de cábulas e todos os livros e cadernos que tenho sobre o assunto em questão.
 
Eu bem comecei. Mas a chuva não deixou.

Fiquei hipnotizada primeiro com a imagem dos pingos a caírem e depois com o som deles a bater no telhado.

É magico…

Mais mágico ainda quando se fecha os olhos e as recordações correm e desenrolam-se à nossa frente tão  reais, tão autênticos. Vivem-se momentos inesquecíveis.

Sinto-me bem quando olho para dentro e não vejo tristeza. Sinto-me bem quando olho para dentro e vejo esperança e consigo tirar de lá tudo o que me consola. Sinto-me bem quando olho para lá e não tenho de me enfrentar, de me olhar de frente, de me culpar, de me julgar, de me ver, de me criticar, de me limitar. Sinto-me bem quando não tenho quem me veja, quando posso ser só eu, sem espelhos, sem sombras, sem cores. Chego a sentir-me bonita por instantes.

Luz III



Luz II



Luz



sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Hoje...

Eu gosto destes dias

Hoje se eu fosse um dia, seria um dia destes, chuva, vento e trovoada. 

Hoje se eu fosse um dia, seria dia de inundações de tanta chuva, de mar bravo e preto tição, de remoinhos de folhas encarnadas a voar pelo ar à procura de poiso, de relâmpagos cheios de pressa a correr nos céus, de nuvens perdidas e cinzentas carregadas de tudo.

Hoje se eu fosse um fruto seria Castanha! Castanha assada, quentinha, castanha de cor e preta de queimada. Acabada de sair do fogareiro, cheia de sal, envolta em fumo e nevoeiro, vultos de chapéu-de-chuva a passar na contra luz do dia, numa correria e na pressa de fugir da chuva.

Hoje se eu fosse um chá, seria de frutos silvestres sem açucar. Lá fora a chuva, cá dentro o crepitar da madeira, o lampejar das labaredas, o cheiro do fumo da lareira misturado com o cheiro ácido, próprios dos frutos selvagens. Um chá servido com requinte no lusco-fusco dos candeeiros de mesa com lâmpadas frouxas e abajures cor de morango, toalhas rústicas a cheirar a sabão branco e alguém de olhos fechados a saborear todo este aroma e ambiente recatado.

Frio, não. Frio não entra neste rol. Frio já bem basta o que sinto. Hoje não gosto de frio.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Na medida certa


Também na amizade existem medidas. Tudo, nesta vida, tem de ser dado na medida certa, já dizia a minha Avó, sempre sábia.

Nunca percebi muito bem o que era isto das medidas certas, até passar por isso.

A ver se me consigo explicar: As medidas, na amizade, são difíceis de definir, existe um leque grande de intensidades e um sem número de vontades. Mas essencialmente, mede-se no que se dá, contra o que se recebe.

Durante anos achei que este pensamento era muito egoísta, mesquinho até, que na amizade não havia interesses, medidas e cobranças. Mas, e nesta perspectiva, não é uma questão sindicalista, é uma questão de equilíbrio, de harmonia.

Tudo nesta vida tem de ser estável, compensado e quando não se consegue gasta-se, rebenta e acaba.

Vejo isto como uma linha em que o meio é o equilíbrio. Ambos os elementos se devem posicionar em lados opostos e distâncias equivalentes em relação a um neutro. Uns dias mais, uns dias menos, umas fases mais, outras menos longe do neutro mas sempre e em média contrabalançados.

Passamos a vida a tentar passar as medidas e a testar estes equilíbrios. Às vezes até demais, mas a medida do outro, leva-nos outra vez para o lugar certo. É engraçado perceber que de uma forma geral é o egoísmo de cada um que nos dá esta medida de estabilidade.

Quanto à intensidade ela pode estar mais perto ou mais longe do ponto dito de equilíbrio e existem tantas intensidades quantos os pontos existentes num recta.

É muita fórmula, é muito pensado, muito estruturado para meu gosto. Está claro que no dia-a-dia não se pensa em nada disto, nem se usam estas fórmulas para ajustar as amizades, às vezes com grande pena minha, mas é disto que se trata.

O primeiro passo


Não resisti:

"Por mais longa que seja a caminhada o mais importante é dar o primeiro passo."
(Vinícius de Moraes)

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Cartas

Parte da minha vida é feita de cartas a quem eu gostaria de explicar todas as teorias filosóficas que estão por trás de cada um dos meus comportamentos e dos meus sentimentos.

Parece parvoeira, mas tenho uma necessidade enorme de as explicar porque só assim fazem algum sentido. As pessoas interpretam tudo à maneira delas e esquecem-se que existem outras visões, os medos, as vergonhas, os esquecimentos, os óbvios.

É difícil aceitar. É difícil fazer aceitar. Mas uma vez aceite tudo se torna mais fácil, mais respirável.

Só que, uma coisa é escreve-las outra é entrega-las. A grande maioria não é entregue, não chega ao seu destino ou melhor ao seu destinatário.

Às vezes pergunto-me porque é que as escrevo se sei que não as vou entregar. Vá-se lá saber os porquês? 

Acho que nem eu própria sei ao certo.

Sei, isso sim, que me sossega escrever tudo o que me vai na alma.

domingo, 24 de outubro de 2010

Para ti eu criarei um dia puro


"Terror de te amar num sítio tão frágil como o mundo

Mal de te amar neste lugar de imperfeição
Onde tudo nos quebra e emudece
Onde tudo nos mente e nos separa.

Que nenhuma estrela queime o teu perfil
Que nenhum deus se lembre do teu nome
Que nem o vento passe onde tu passas.

Para ti eu criarei um dia puro
Livre como o vento e repetido
Como o florir das ondas ordenadas."

(Sophia de Mello Breyner Andresen, in “Obra Poética”)

sábado, 23 de outubro de 2010

Mesmo quando se tem pressa

Mesmo quando se tem pressa e se tem trezentas mil coisas para fazer, há sempre um minutinho para ler coisas bonitas ...

"Diz-me, amor, como te sou querida,
Conta-me a glória do teu sonho eleito,
Aninha-me a sorrir junto ao teu peito,
Arranca-me dos pântanos da vida.

Embriagada numa estranha lida,
Trago nas mãos o coração desfeito,
Mostra-me a luz, ensina-me o preceito
Que me salve e levante redimida!

Nesta negra cisterna em que me afundo,
Sem quimeras, sem crenças, sem turnura,
Agonia sem fé dum moribundo,

Grito o teu nome numa sede estranha,
Como se fosse, amor, toda a frescura
Das cristalinas águas da montanha!"

(Florbela Espanca, in "A Mensageira das Violetas")

Cumplicidades

Hoje, neste dia de lua cheia, deu-me vontade de escrever.

Deitei a cabeça para trás, parei dois segundos e ao voltar, desatei a escrever ao som destas musicas:




Não é estranho. Gosto de escrever ou melhor gosto de falar comigo. Gosto de me fazer explicar, gosto de me tentar compreender. É um bom exercício para quem não quer ou não sabe pensar, para quem se perde em pensamentos e divaga. Assim não há forma de nos perdermos. É aquilo ou é isto.

Quando se começa a escrever o pensamento flui e às vezes escapa-se para outras paragens que não a do primeiro propósito, o que não é essencialmente mau, quantas vezes se chegam a pensamentos engraçados. Outras vezes retoma-se rapidamente o fio à meada e segue-se o caminho por onde se tinha começado. Esta é uma das grandes vantagens de se poder pensar através da escrita.

Entre o que escrevi e o que apaguei, entre o que pensei e não escrevi, entre o que ficou mas não se vai ver, entre o que foi e o que voltei a trás, entre o que é e o que não é, se está bem ou se está mal, se é feio ou bonito, se está correcto ou não, escrevi que me fartei.

Definitivamente escrever tem graça, complica ou descomplica, tanto pode aliviar como magoar, fazer rir ou chorar, pode até nem fazer nada, mas é uma grande companhia, faz do papel um grande ouvinte e da caneta uma grande cúmplice.

Estava mesmo a precisar...


quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Olhei para trás


Olhei para trás e lá no fundo vi tudo aquilo que gostei, todos aqueles que me fazem falta, tudo o que foi bonito, tudo o que perdi, tudo o que nunca tive, tudo que o que passei.

Olhei para trás e vi tudo o que hoje choro e tudo o que me faz sorrir.

Olhei para trás e tive saudades.

Olhei para trás e percebi que tudo o que lá está, lá está.

Olhei para trás e compreendi que tudo o que lá está já não volta.

Olhei para trás e senti o inacabado.

Olhei para baixo e disse baixinho só para mim: porque teve de ser assim?

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Coisas que ficam por fazer


 São tantas, que chego a ficar incomodada.
 
Hoje foi um desses dias.

Vieram mil coisas à cabeça, mil palavras, mil lembranças, mil coisas para partilhar.

E uma coisa é ir adiando e acabar por cair no esquecimento e outra é perceber que não é oportuno ou não é hora ou não vem a propósito ou tão-somente por não querer cair no ridículo do parecer ser!

Estas últimas são as que me custam mais, ficam por aqui a bailar e a massacrar. Será que devo, será que não devo… Afinal eu também gostaria que me fizessem o mesmo, dar importância a quem a tem é digno, é bonito, é verdadeiro, mas é sempre tão incompreendido... que o nosso instinto de preservação e de saúde mental, acaba por renegar e pôr de lado qualquer ideia.

Assim, por um lado se se fica calado e quieto fica-se com um sentimento mesquinho de que somos cobardes, medricas, de que nos falta alguma coisa e sei lá mais o quê, por outro se dizemos ou fazemos, ficamos com a sensação de que não o deveríamos ter feito porque as reacções geralmente não superam as expectativas, ficam tão aquém que nos fazem sentir amargamente arrependidas, ridículas, pequenas, constrangidas.

E sim, muitas vezes é só medo!
Às vezes dou por mim a pensar no montão de coisas que ficaram por dizer e por fazer em cada um dos meus dias.

domingo, 17 de outubro de 2010

Nada sabemos


"Como é por dentro outra pessoa
Quem é que o saberá sonhar?
A alma de outrem é outro universo
Com que não há comunicação possível,
Com que não há verdadeiro entendimento.


Nada sabemos da alma
Senão da nossa;
As dos outros são olhares,
São gestos, são palavras,
Com a suposição de qualquer semelhança
No fundo."
(Fernando Pessoa)


É desconcertante ler este poema. Ninguém, por melhor que conheça outra pessoa, consegue perceber na realidade a sua verdade. É tão real, tão óbvio, tão evidente, que nos esquecemos sequer de pensar no assunto. Ainda bem que alguém pensou, e ainda bem que li, e ainda bem que alguma coisa me obrigou a pensar. Porque verdade verdadinha há mil coisas iguais a esta que me vão escapar na vida, mesmo que ela dure mil anos.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Lições de vida


E continuando com Antoine Saint-Exupéry:

“Eu não tenho necessidade de ti e tu não tens necessidade de mim. Mas se tu me cativas, teremos necessidade um do outro. Serás para mim, único no mundo. E eu serei para ti, única no mundo.”
(O Principezinho - Antoine de Saint-Exupéry)

Gosto mesmo do livro “O Principezinho”, mas às vezes em frente a situações reais, é difícil de engolir determinadas coisas que sempre nos pareceram tão evidentes e que sempre nos ensinaram como sendo verdades absolutas.

Seja como for é bom lembrar algumas passagens ou neste caso, algumas citações de Antoine de Saint-Exupéry, porque a vida faz-nos endurecer e tudo o que eu menos quero é sentir-me dura com a vida.

"O que nos salva é dar um passo e outro ainda." (Antoine de Saint-Exupéry)

"Se queres compreender a palavra 'felicidade', indispensável se torna entendê-la como recompensa e não como fim." (Antoine de Saint-Exupéry)

"Ninguém se pode sentir, ao mesmo tempo, responsável e desprezado." (Antoine de Saint-Exupéry)

"É o mesmo sol que derrete a cera e seca a argila." (Antoine de Saint-Exupéry)



São verdadeiras lições de vida…

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Mistério


Sempre achei estranho, as pessoas terem o dom da palavra e não se conseguirem entender.

E quando digo o dom da palavra, digo o dom do raciocínio. Para todos os efeitos somos animais racionais e emocionais. Por princípio somos inteligentes, rimos, choramos, sentimos, sabemos falar, sabemos ouvir, pensamos, perguntamos se tivermos dúvidas, somos por princípio pessoas razoáveis, até porque somos educados a que “è a falar que nos entendemos”.

Tudo leva a crer que nos conseguimos entender. O facto é que aqui e ali, ontem e hoje e provavelmente amanha isso não acontece, nem vai acontecer nunca.

Os porquês, nem quero arriscar. Ficaria aqui tempos infindáveis. Existem mil desculpas, mil situações diferentes, mil razões, mil sentimentos que fazem com que falar e querer entender, só por si, não seja suficiente e linear.

Tudo isto é, e para mim sempre será, um mistério.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Experiências




Loucura


“Os loucos abrem os caminhos que depois emprestam aos sensatos “
Carlo Dossi -"Note Azzurre"

Louca.

Gosto da palavra. Louca, loucura, loucamente… Mete medo mas gosto.

Sempre gostei de pessoas loucas saudáveis. Dão-me coragem. Aquela coisa que me falta e que nunca tive.

Coragem para ser, coragem para me aceitar, coragem para andar para a frente, coragem para enfrentar quem me afronta, quem me faz mal, coragem para ignorar o que não me serve, coragem para esquecer o que não interessa, coragem para assumir o meu eu e conviver com isso de uma forma saudável, convincente, bonita. A loucura saudável é aquela que dá sal à vida, que a impulsiona, que avança sem pensar se se tem coragem, se se perde, se se ganha, se se fica à espera, se se vai embora e seja, o que vier está bem assim.

Loucura a mais enjoa. Loucura a menos chega a ser doença. Serei doente?

No outro dia chamaram-me louca. E eu fiquei pasmada. Nunca fui louca!
Nem consegui responder. Provavelmente foi um mal entendido ou tão só uma expressão. Nunca saberei. Mas também não me dei ao trabalho de rectificar a situação. Alguma coisa que eu disse na minha santa ingenuidade e que foi entendida de outra forma! Há certas coisas, em certas alturas que não vale a pena rebater. Limitei-me a pensar que, se calhar e de alguma forma, até gostei que alguém me achasse louca.

Um bocadinho de loucura se calhar não me ficava nada mal.

Para mim a loucura máxima são os meus pensamentos. Mas pensar, pensando bem não é loucura. Pensar é pensar. Loucura é fazer.

domingo, 10 de outubro de 2010

I am what I am


I am what I am


É determinante lutar por aquilo que é realmente importante, assim como é importante ser-se humilde e aceitar que nem sempre se tem o que se quer, nem sempre se consegue o que se deseja.

Acima de tudo e como já dizia a minha Avó, mais importante do que saber perder, é nunca deixar de ser quem somos e saber reconhecer que no momento a seguir já estamos a ganhar, porque a isto se chama viver. Ganhar, perder, soltar uma lágrima, sorrir, aprender, em suma contar uma história.

sábado, 9 de outubro de 2010

Sítio certo na hora certa


No sítio certo, no momento certo.

Ou se tem sorte ou nem por isso.

Mas nem tudo é assim na vida. Tal como na fotografia, há coisas que não dependem só do momento certo no sítio certo. Dependem da perseverança, da vontade, do querer e acima de tudo do saber.

Por enquanto ainda vou no primeiro passo. Mas já já esse passo vai fazer parte do passado. Assim como tantas outras coisas.

Primeiro passo:




sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Coisas interessantes


"Perder tempo em aprender coisas que não interessam, priva-nos de descobrir coisas interessantes"


(Carlos Drummond de Andrade)

É por estas e por outras que hoje vou aprender outras coisas...

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Pergunto-te onde se acha a minha vida


"Pergunto-te onde se acha a minha vida.
Em que dia fui eu. Que hora existiu formada
de uma verdade minha bem possuída.

Vão-se as minhas perguntas aos depósitos do nada.

E a quem é que pergunto? Em quem penso, iludida
por esperanças hereditárias? E de cada
pergunta minha vai nascendo a sombra imensa
que envolve a posição dos olhos de quem pensa.

Já não sei mais a diferença
de ti, de mim, da coisa perguntada,
do silêncio da coisa irrespondida. "

Cecília Meireles, in 'Poemas (1942-1959)'

Escrever



«Escreve-se para preencher vazios, para fazer separações contra a realidade, contra as circunstâncias»

Mario Vargas Llosa, Prémio Nobel Literatura 2010

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Ilusões


Quando conhecemos alguém de novo, tentamos “situa-la” dentro dos nossos conhecimentos.

Todos os seus gestos, as suas palavras, os seus comportamentos são minuciosamente examinados, revistos nas nossas bases de dados de memórias e são arquivados à luz da semelhança.

Só assim conseguimos tirar as nossas deduções e classificar a nova pessoa dentro da nossa cabeça, dentro na nossa alma, dentro do nosso coração. Reconstituímos o desconhecido com o auxílio do que conhecemos.”- Lars Gustafsson, in 'A Morte de um Apicultor'

Só que tudo isto tem o seu risco e o seu senão, é que as nossas bases de dados são feitas de recordações sensoriais, de sentires. Quando conectamos sintonizamos a pessoa dentro de nós por nos parecer ser, não estamos na realidade a ser exactas porque até esse parecer que temos guardado, tal como o que temos para analisar, é um parecer, é um mistério, não passa disso. - “Explicamos um enigma com outro enigma” - Lars Gustafsson, in 'A Morte de um Apicultor'.

Só assim conseguimos explicar tantas ilusões e tantas desilusões e tantos mal entendidos. Tal como algumas surpresas agradáveis.

“No fundo de cada pessoa há um enigma impenetrável. O negro da pupila não é mais do que essa noite sem estrelas - o negro no fundo dos olhos não é mais do que as trevas do próprio universo.”
Lars Gustafsson, in 'A Morte de um Apicultor'

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Conhecermo-nos...


"O derradeiro mistério somos nós próprios. Depois de termos pesado o Sol e medido os passos da Lua e delineado minuciosamente os sete céus, estrela a estrela, restamos ainda nós próprios. Quem poderá calcular a órbita da sua própria alma?"

Oscar Wilde, in 'De Profundis'

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Inconstância


Inconstância

“…Passei a vida a amar e a esquecer...
Atrás do sol dum dia outro a aquecer
As brumas dos atalhos por onde ando...

E este amor que assim me vai fugindo
É igual a outro amor que vai surgindo,
Que há-de partir também... nem eu sei quando...”

(Florbela Espanca : Inconstância)

Acho que já uma vez disse que gostava de palavras. Palavras soltas.
Palavras que só por si valem mais que um conjunto enorme de outras tantas.

Desta vez bateu-me uma nos olhos que ficou a falar comigo até agora.

Inconstância.

O seu significado e sinónimos no dicionário são: Facilidade de mudar de opinião, de resolução, de procedimento. Diversidade, flutuação, variação, variedade e volubilidade

Por minhas palavras, inconstância, é uma palavra agreste, com uma carga negativa grande, mas que define tão bem uma das grandes características do ser humano, a mutação constante de todos os sentimentos, atitudes, pensamentos…

É uma palavra que vejo muito na escrita dos poetas e que se ouve muito da boca dos mais sensíveis pensadores, certamente por provocar danos grandes na alma.

Tudo muda, tudo passa, tudo se transforma, tudo é inconstante.

“Os homens são demasiado fracos e demasiado mutáveis para suportar muito tempo o peso da amizade.” (A Inconstância no Amor e na Amizade - La Rochefoucauld)