terça-feira, 24 de agosto de 2010

Caderninho


"A experiência directa é o subterfúgio, ou o esconderijo, daqueles que são desprovidos de imaginação." ("Livro do Desassossego" Autor: Fernando Pessoa)

Estas são daquelas passagens, que se devem guardar e partilhar.

Aí vai mais uma:

-Parece impossível que tudo à roda de nós seja ou se mostre sempre tão passivo, que a nossa desordem seja só interior, se não comunique ao que nos cerca...O trabalho obstinado do meu pensamento é o de desarticular as causas do meu mal-estar, mas é um trabalho impotente, de pancadas cegas. (Pequena passagem do livro "Solidão" de Irene Lisboa.)

Os Caderninhos servem para isso mesmo.

Ontem andei a remexer em papéis e encontrei um Caderninho de Pensamentos que uma Tia da minha mãe lhe deu de presente de 14 anos.

O Caderninho é manuscrito e tem como pensamento introdutório:

"As máximas são como os números que compreendem grandes valores em bem poucos algarismos"

A carta que o abre reza o seguinte:

"Aveiras de Baixo
6 de Agosto de 1956

Minha muito querida Helena
Com mil parabéns pelos seus 14 anos, ofereço-lhe estes pensamentos para a menina guardar. Não lhe peço que os leia, muito menos todos de uma vez, mas quando lhe apetecer ou lhe lembrar, leia um qualquer ao acaso e medite 2 minutos na verdade que ele encerra. Foram todos escolhidos por mim e para si. Deixo uma grande parte do livro em branco para a menina o completar pela vida fora com pensamentos que lhe agradem.
Se eu vier a saber que a menina recolheu um pensamento que seja, e o escreveu neste livro, é o melhor agradecimento que me pode fazer pela alegria que me dá por ver que o meu trabalho não foi de todo inútil.
Um grande beijo da Tia
Maria Emília"

Mais do que o próprio do Caderninho é a intenção que está por trás que o faz tão valioso.
A oferta valeu bem a pena. Para além de ter sido completado com uns quantos pensamentos recolhidos pela minha Mãe, vai agora ter mais uns quantos recolhidos por mim.

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