segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Suspense

Dor latente
Mente dormente
Pensamento vergado e calado
Esperança guardada
Desejo adormecido
Expectativas encerradas
Até a alegria é comedida e contada
E a tristeza está à porta fechada
A ver se não sai
Tudo em compasso de espera
Assim me sinto no meio desta baralhada
Onde não há frio não há amor
Não há vazio não há dor
A chuva bate mas não molha
O sol quando aparece não aquece
Mundo este despido de frio
Onde o dia antecede a noite
E a noite vem a seguir ao dia
Numa sucessão de dias sem luz
O que vem a seguir não sei
Só a Lua é uma certeza
Neste universo de incertezas
Mas até esta está nua
E envolvida num manto de sombras
Disfarce único e irredutível
Imposto pelo pudor
Sobra a doce luz do seu sorriso
Que foge através das dobras
Lançando lianas bem fortes
Para me poder resgatar
E seja lá quando for
Guardar a minha alma dorida
Entregar-me o meu sorriso
Envolver o meu corpo
Num abraço de conforto
Devolver-me a alegria e a paz
Que um dia me foram tiradas

domingo, 19 de dezembro de 2010

“Perdida em Pensamentos”


Mais um dia, mais uma folha em branco mais um bloqueio mais um obstáculo a vencer.

De palavra em palavra vai-se construindo a ideia até ter uma forma que nos satisfaça.

Primeiro tenho a dificuldade da ideia. Muitas vezes não há, outras tenho tantas que não sei por onde começar. 

Depois vem a dúvida. Será que é, será que não é. 

Depois vem o grande problema que é a sua descrição. E é aqui que a porca torce o rabo. Vezes sem conta que as coisas me saem tão diferentes daquilo que foi a minha ideia inicial. Tudo porque quando se pensa sobre uma coisa por alto tem-se uma lógica que desaparece quando se começa a pôr no papel e a fazer ligações. É o que hoje em dia chamo de “pensamento concreto” e “pensamento abstracto”. Isto sou eu, a ignorante, a chamar nomes a coisas que já os devem ter… Facto é que eu lhes chamo assim.

Neste contexto, já vi a minha cabeça dar voltas de 180 graus quando não de 360. É importante perceber, quando se fala das nossas percepções, que nos podemos estar a enganar a nós próprios em pensamento abstracto, de tanto que queremos ter razão. Mas quando chegamos aqui, ao papel e começamos a debitar percebemos que dois mais dois, não são cinco nem três, são 4 e não há volta a dar.

Há ainda outra coisa muito importante que é ter a noção de que a importância de fazer uma conta hoje não é a importância de fazer uma conta amanha ou ter feito outra ontem, mais precisamente, hoje preciso de a fazer amanha talvez não. 
Outra variável é ainda o facto de que hoje é preciso fazer dois mais dois e ontem foi preciso de três mais dois. 

O pensamento é matemático e temos tantas variáveis quantas as que se quisermos lá pôr, por isso temos tantas contas por fazer e por desvendar a nosso respeito quantas as que quisermos e precisarmos. 

Mas… pensamento é uma coisa, sentimento é outra… quantas vezes, mesmo sabendo que dois mais dois são 4, sentimos cinco ou três! 

E pronto já compliquei tudo outra vez…
Este é provavelmente o efeito novelo, que tantos homens apontam como sendo o grande “problema” das mulheres… e que eu chamo de “perdida em pensamentos”.

Eu ando permanentemente “Perdida em Pensamentos”.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Dia de "Palhaço Pobre"


Um dia vi um filme em que o protagonista era um Palhaço Pobre e o seu trabalho era fazer rir as pessoas em especial as crianças.

Um trabalho exigente, muito exigente mesmo. As crianças são geralmente perspicazes e qualquer sombra no olhar pode comprometer a representação. Por isso fizesse chuva ou fizesse sol, houvesse ou não houvesse problemas, estivesse ou não triste, o trabalho tinha de ser feito e bem feito e o palhaço pobre tinha de estar em forma e de sorriso na cara sem sombras no olhar para conseguir que as crianças se rissem. Com a agravante de que quanto mais fazia rir, mais se sentia sozinho, desprotegido e triste.

A história foi-se complicando ao longo do filme e dei por mim, verdadeiramente encolhida de dor.

O sofrimento das pessoas sempre me fez muita impressão, então o sofrimento calado… Talvez porque é um sentimento que eu não consigo suportar e com o qual não sei lidar.

A partir desta data todos os dias em que me sinto desconsolada e sem coragem para partilhar, em que me sinto sozinha e sem ânimo para reagir, em que me sinto triste e sei que não devo demonstrar, são dias a que chamo de “Palhaço Pobre”.

Eles existem, com mais frequência do que se possa pensar e são palco de grande sofrimento. Neles vivem-se momentos de muita solidão, tristeza, insegurança e inquietação. 

domingo, 12 de dezembro de 2010

Frank Sinatra


Frank Sinatra, nasceu a um dia 12 de Dezembro. Hoje faria 95 anos.

Não faria grande diferença para mim não fosse eu ter acordado com um dos grandes clássicos dele cantado por Michael Bublé, dançado pela casa inteira e minutos depois ter lido que hoje teria sido o dia de anos dele.

De alguma forma encheu uma parte do meu dia e eu gosto de quem me ajuda a fazer do meu dia um dia melhor.

sábado, 11 de dezembro de 2010

Hoje...

Pois nem de propósito

Será que sou bruxinha? Tenho uma amiga que diz que as coisas só acontecem quando nós estamos preparadas para que isso aconteça. Se calhar é verdade!

Hoje tive uma amostra.

Fazer filmes não leva a lado nenhum porque na realidade quando as coisas acontecem, nunca acontecem como se imaginou como se pensou ou mesmo como se ensaiou. É mesmo estranho!

Hoje, e foi hoje mesmo, em sonhos, simulei todas as situações e mais algumas, em termos de cenários, de falas, de situações e até de sentimentos. Achava eu…! Não conseguindo chegar à conclusão de qual cenário escolher, nem de qual fala a adoptar, nem que sentimento iria eu ter, virei-me para a hipótese 2 – seria muito mais fácil e ficaria muito mais feliz se fosse criança! Aceitei esse facto e comecei o meu dia.


As crianças não pensam, agem. Não temem consequências, não perdem tempo.Vão em frente sem medos e sem pruridos, sem ses nem senãos, sem mas nem porquês.

Hoje fui Criança. Agi da mesma forma que uma criança agiria. A alma abriu-se e o coração mandou e comandou!

E agora tenho um senão, um mas e um porquê a que me dar resposta ou então, mando tudo para as couves, não penso e seja o que Deus quiser? - Enfim, já temos dedinho de adulto por aqui!

Decisão de hoje, sincera, franca e verdadeira: não me apetece pensar.

Pensar magoa. Vou continuar a agir como criança não pensar e deixar a vida seguir.

Que se lixe tudo o que estiver em causa,se é que está alguma coisa, pelo menos hoje.

Ai quem me dera ser eternamente criança...


"Certas coisas são amargas se a gente as engole."
(Millôr Fernandes)

O pior é que as engolimos quase sempre.

Hoje acordei e fiquei na cama a giboiar de olhos fechados a ouvir as minhas palmeiras e a sentir o quentinho do Sol a bater-me na cara. Inconscientemente sentia o mar a ir e a vir e os meus sentidos estavam sensíveis a todos os sons que vêm do dia. Sim porque o dia tem som em contrapartida com a noite e o som faz companhia. 

A janela estava aberta, o ventinho ou melhor a brisa fria chegou-me ao nariz e eu enrosquei-me e enrolei-me ainda mais no meu edredão. A cabeça, essa começou a funcionar muito antes de eu acordar. Numa espécie de sonho eu ia pondo as várias hipóteses e ela, num rodopio alucinante, dava-me as possíveis soluções e contrapunha por falta de correspondência – “Wrong. Does’t match”- não é sensata nem possível segundo a situação actual. O lado de lá não quer ou o lado de cá não pode...

Definitivamente não tinha de ser assim!

Este pensamento aniquilou-me. Se não tinha de ser assim então porque é que foi?

Até que pensei: se eu fosse criança tudo era tão mais simples… Há coisas que não se põem em causa, há coisas que não fazem diferença para o nosso objectivo, há coisas que acontecem e que sentimos e que no minuto a seguir pomos de parte porque o nosso fim último é muito mais importante.

As prioridades são completamente diferentes, as razões vêm do coração, os quereres vêm da alma. As vergonhas e as frustrações não são barreiras significativas, as verdades não existem. Tudo podia ter acontecido de maneira tão diferente e mesmo que tivesse sido assim estaria resolvido em menos de dois segundos e a um passo de uma palavra. Talvez a palavra “Olá”!

Ai quem me dera, ser eternamente criança...

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Uma Relíquia


Uma Relíquia.
Hoje não estou de grandes conversas. Ouvir fez-me bem.
Às vezes basta viver o que se ouve. É tão bom quando temos tempo e disponibilidade de cabeça para deixarmo-nos levar…

Seu Jorge - Life On Mars

terça-feira, 30 de novembro de 2010

O teu riso de fonte



“Se tu viesses ver-me hoje à tardinha,
A essa hora dos mágicos cansaços,
Quando a noite de manso se avizinha,
E me prendesses toda nos teus braços...

Quando me lembra: esse sabor que tinha
A tua boca... o eco dos teus passos...
O teu riso de fonte... os teus abraços...
Os teus beijos... a tua mão na minha...
…”
(Florbela Espanca)

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Amigos


Foi das coisas melhores que eu já li...

Que bom que é quando as coisas são assim simples e se resolvem simples assim também.

É bom acreditar, sonhar e fazer de conta que é possível... mesmo sabendo que o ser humano quando crescido, é muito mais complicado do que isto. Os porquês parecem ser muito mais importantes do que qualquer outra coisa.

Porquê? Também não sei…

Só sei que é assim!

- Já fizeram as pases?
- Já.
- Como é que foi?
- Eu disse-lhe olá.
- E ele?
- Disse olá.
- E depois...?
- Fomos brincar.
- Não falaram sobre a vossa zanga?
- Não havia nada para falar... Já não estamos zangados.


De um Amor Morto


"De um amor morto fica
Um pesado tempo quotidiano
Onde os gestos se esbarram
Ao longo do ano

De um amor morto não fica
Nenhuma memória
O passado se rende
O presente o devora
E os navios do tempo
Agudos e lentos
O levam embora

Pois um amor morto não deixa
Em nós seu retrato
De infinita demora
É apenas um facto
Que a eternidade ignora"

Sophia de Mello Breyner Andresen, in "Geografia"

domingo, 28 de novembro de 2010

Lavar de alma


Ainda sou do tempo em que fazer coisas diferentes significava que se era completamente maluco, ou comunista ou hippy ou avariado, ou assim …

Dantes não havia instalações no meio das ruas, as decorações era clássicas, havia poucas coisas arrojadas e as poucas que havia eram olhadas com desdém, com medo, com uma certa curiosidade escondida. Pelos mais tradicionais, os ditos “Velhos do Restelo”, eram vistas como afrontas, provocações e outras coisas que tais.

Hoje tudo é permitido, até as coisas mais chocantes, como um cão a morrer à fome à frente de toda a gente, sem que nada se faça. Chega a ser cruel, feio.

Por outro lado tanto arrojo leva-nos a abrir horizontes, a despir de preconceitos, a distinguir os nossos gostos, a abrir a curiosidade, a picar a criatividade.

Ver coisas diferentes ilumina-nos o espírito, faz-nos esquecer as mágoas, tira-nos a dor. Ver coisas diferentes lava-nos a alma.

Horizonte





De Onde é quase o Horizonte
De onde é quase o horizonte
Sobe uma névoa ligeira
E afaga o pequeno monte
Que pára na dianteira.

E com braços de farrapo
Quase invisíveis e frios,
Faz cair seu ser de trapo
Sobre os contornos macios.

Um pouco de alto medito
A névoa só com a ver.
A vida? Não acredito.
A crença? Não sei viver.

Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Foi com muito orgulho


O ponto alto de ontem: dei sangue.

Ponto alto do dia ser dar sangue até a mim me faz rir. Mas é verdade. Foi mesmo o ponto alto do dia, da semana ou até mesmo do mês.

É uma história que já vem de longe e que vem sendo alimentada ao longos de todos estes anos por variadíssimos veredictos desfavoráveis.

Em tempos os meus tios e o ,eu Pai pediram-me para dar sangue. A minha Avó de Pai estava muito doente e precisava de uma transfusão. Segundo parecia o meu sangue era compatível com o dela. Acontece que depois de análises, questionários, assinaturas, etc, o médico optou por não me deixar dar o meu contributo. 
Ao que consta, um antibiótico tomado foi o culpado. Este episódio teria corrido mais ou menos bem, não fosse a minha Avó ter morrido por essa altura sem ter feito a transfusão.
 
Ora, não que me sinta directamente culpada mas lá que fiquei com uma comichão atrás da orelha, não posso negar.
A partir daí tentei inúmeras vezes dar sangue, mas nunca fui aceite, por esta ou por aquela razão. Comecei a achar que era a minha sina, querer tanto e não conseguir. A minha frustração foi crescendo, até que um dia decidi, cheia de convicção, ser dadora de qualquer coisa. Dirigi-me ao banco de dadores de medula óssea. Sorte das sortes, depois da parafernália de perguntas e exames, lá me acharam apta e fiquei registada no banco. Que orgulho que eu senti de mim!

Dar sangue tornou-se num assunto tabu.

Até que um dia, numa das muitas iniciativas da minha empresa, apareceu uma equipa do Instituto Português do Sangue para fazer recolhas. A medo aproximei-me, mais uma vez respondi à catrefada de perguntas exigidas, sujeitei-me aos exames impostos e fui à consulta obrigatória ouvir o veredicto final. Para meu espanto a médica disse que eu estava apta para ser dadora. Fiquei momentaneamente sem reacção, meia incrédula e com os olhos cheios de lágrimas. Finalmente tinha conseguido. Nesse dia, verdadeiramente feliz, festejei, sozinha mas festejei. 

Hoje voltou a acontecer. Foi com orgulho que me deitei naquelas camas e assisti, nervosa, a todo o processo, do princípio ao fim, sem fechar ou desviar os olhos.