quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

E quando a luz se apaga!


Fiquei pasmada a olhar para a crónica de António Lobo Antunes (Visão) da semana passada.

Por varias razões:

A primeira, não necessariamente a mais importante, foi um texto que comecei a escrever, há meses por causa de uma frase que ouvi e que me ficou a bailar na cabeça. Essa frase, não me larga, tal e qual “Que cavalos são aqueles que fazem sombra no mar?” não largam António Lobo Antunes.

A segunda foi a sensação que a frase provocou: “… Gostava de usá-los como título de um livro: tocaram não sei onde, no mais fundo de mim, e eu comovido como tudo, com lágrimas dentro. Porquê? Vou repeti-los mais uma vez dado que não cessam de perseguir-me: Que cavalos são aqueles que fazem sombra no mar?”

Claro está que a frase que me “tocou não sei onde, no mais fundo de mim” não tem a profundidade da que tocou em ALA. E claro está também, que tudo o que escrevi a tentar descrever o que me saltava da alma, parece ridiculamente estúpido, despropositado, mal escrito, mal descrito comparado com a simplicidade e beleza com que ALA espelha o seu sentimento.

Sentimento este em tudo semelhante aquele que eu senti, quando li a minha frase pela primeira vez.

Assim, comparar mesmo, só o facto de haver uma frase que não nos larga e o sentimento que ela provoca em nós.

O que escrevi então, mais propriamente em Novembro passado foi:

E quando a luz se apaga!

Já não sei onde li, mas li. E ficou a badalar na minha cabeça.

Escrevi-a, alguns dias depois, num papel de supermercado para não me esquecer. E continuou a ir e a vir nos meus pensamentos, até que resolvi ver o porquê de tanto chocalhar. Olhei para a frase escrita naquele papel, virei e revirei. Tentei fechar os olhos e ver o que aquelas letras todas juntas me faziam sentir de tão especial.

Tudo e Nada… Fazem-me sentir tudo e não me dizem nada.

Mais dias passaram e a frase continuava a bailar à frente dos meus olhos, a ecoar nos meus ouvidos, na minha cabeça, como uma letra de uma música quando fica no ouvido.

E quando a luz se apaga!

Resolvi mais uma vez pensar nela e tentar desmistificar o seu sentido.

E Quando a luz se apaga!

Quando se pensa na vida. Quando se perde o objectivo de vida. Quando se morre. Quando se desliga o interruptor …
E quanto mais tempo tiver para pensar mais significados se pode arranjar. Questão de tempo e de imaginação.

Enquanto uns não têm historia outros há, que se podia passar a vida inteira a falar sobre.
E para não variar o sentido que mais me chama e se ri para mim é “Quando se pensa na vida”.

Oh! Quanta criatividade… Shsss! Silêncio, para tudo… Até eu fiquei espantada comigo própria. É
muito bom, muito bom mesmo…

Começo a achar que “pensar na vida” é o meu castigo. (Ou a minha recompensa!)
De facto, é o que me faz mover, é a minha energia, é a minha vontade. Mas também é a minha cruz, o meu tormento. Ora me aproxima, ora me afasta, ora me dá, ora me tira. É sem dúvida o que me agita, o que me sacode.

Há quem lhe chame “inquietudes”, palavra bonita cheia de charme e filosofia, e quem, como eu, lhe dê o nome de “coisas da vida”, frase sem sentido que quer dizer tudo e não quer dizer nada, hoje umas coisas, amanha outras.

E…

Ele há dias e dias

Há dias que, quando a luz se apaga, tudo se apaga e há dias que se reacende dentro de nós tudo o que há de bom.

É engraçado ver e constatar que a mesma acção pode provocar reacções tão diferentes.

Por vezes acende-se uma chama, por vezes tanta coisa se apaga, por vezes tudo se ilumina e o sol entra a jorros aquecendo a alma, por vezes entra o frio que nos tolhe os movimentos.

Tudo isto depende da situação, da conjuntura, da intensidade de luz e da cor que está dentro de nós.

Apaga-se a luz, apaga-se o dia e logo outro dia recomeça e outra luz brilha.

Não fosse a coincidência (se é que elas existem) de eu também ter uma frase que não “me larga” e que me tocou “…não sei onde, no mais fundo de mim...” Provavelmente este texto nunca teria saído da pastas dos estudos de tão mau que é.

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