terça-feira, 27 de novembro de 2007

Tantos Medos


Tantos espaços vazios, tantos momentos mortos, tantos lugares sem nada, tantas palavras ocas, tantos gestos falsos, tantos passos incertos, tanta falta de sinceridade, tantos jogos desnecessários, tantas palavras por dizer, tantas horas desperdiçadas, tantos minutos deixados à solta.

Como é possível, que com uma vida tão curta nós, cambada de imbecis, nos deixemos ficar sentados a ver a vida passar e nada fazer para a agarrar e parar.

Só com ela parada a conseguimos sentir. Só com ela parada a conseguimos ver, ouvir e adorar.

Fez-me sempre confusão porque temos nós, os humanos, a capacidade de nos magoar, de ocultar de nós próprios tantas coisas que escondidas nos fazem doer.

Porque não falamos, porque não gritamos tudo o que nos vai na alma.

Porque temos nós de manter as aparências e fingir coisas que não somos nem queremos ser.

Porque fazemos o que não temos vontade, dizemos o contrário do que pretendemos, afastamos quem queremos ver perto.

Porque nos sentimos inseguros, porque mentimos em relação aos nossos sentimentos, porque não os deixamos correr ao sabor do vento, porque temos medo de ser ridículos, porque temos “vergonha” de nós próprios, porque não nos mostramos, não nos damos, não nos abrimos ao mundo.

Tantos medos.

Quando nos desvendamos ficamos vulneráveis e ao mais pequeno vislumbre de ameaça accionamos o escudo de protecção que nos afasta da vida, das pessoas, do mundo, de nós.

Mas nem por um minuto nos passa pela cabeça o que podemos ganhar sendo o que somos, fazendo o que queremos, lutando pelo que desejamos.

Porque nos custa dizer às pessoas que gostamos - gosto de ti, preciso de ti, quero te dar, quero-te sentir, aproxima-te de mim, e porque não – Quero-te!

Porque nos custa acreditar nas pessoas que gostamos, quando elas nos dizem – gosto de ti, preciso de ti, quero te dar, quero-te fazer sentir tudo o que tu queres sentir e porque não – Eu também te quero.

Porque nos custa ouvir um não. Um não sem maldade, sem desdenhar, sem ironia, sem querer mal.

Porque nos sentimos mal em gostar sem que gostem de nós, em desejar sem que nos desejem .

Porque não gostamos de dar sem receber, de estender a mão e não ser agarrado.

Porque não há essa naturalidade perante o amor. Tem mal amar e não ser amado?

Pode-se ficar sem uma porção da nossa alma, mas não se é menos gente.

Pode-se ficar triste, mas continuamos a ser nós.

Então o que nos impede de avançar?

Medos. Tantos medos.

Que saudades dos medos aconchegados de criança. De dizer, tenho medo e de ecoar quase em simultâneo - Não tenhas, estou aqui.

Que saudades daquela protecção dourada, de escutar - Gosto de ti - e conseguir acreditar. De sentir aqueles grandes olhos protectores tocarem nos meus e ouvir – vai em frente se caíres eu estendo-te a mão e, não te esqueças eu gosto de ti assim.

Porque temos de crescer. Quanto custa crescer. Quanto custa mostrar uma segurança que não existe, uma dureza que não se tem, uma firmeza enganadora. Começa a chegar a nossa vez de dizer - Não tenhas medo eu estou aqui!

Estarei eu preparada?

Preparada para esconder os meus medos para conseguir atenuar os medos dos outros?

Para que estes outros possam crescer acreditando neles próprios.
Para que ganhem segurança e desta forma possam ajudar os que vêm a seguir e assim sucessivamente.

Crescer é assim.

Estarei eu a crescer?

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