Podia mesmo escrever tudo o que me veio a cabeça quando li este texto. Poderia eventualmente ter graça.
Mas achei por bem nada dizer.
Ele vale por isso mesmo, alias como qualquer bom texto vale por tudo aquilo que nos vem à cabeça quando o lemos, vale pelo que conseguimos retirar dele, vale pelo que ele nos consegue transmitir que será a mim umas coisa e a outros, outras coisas, mesmo que a essência seja a mesma! É como as cores, como os poemas, como a fotografia. Fazemos deles histórias e esta, vale a pena não ser contada por mim e deixar que quem a leia faça a sua própria história.
“…Se o escultor despreza a argila, terá de modelar o vento. Se o teu amor despreza os sinais do
amor a pretexto de atingir a essência, o teu amor não passa de um palavreado. Não descuides
as felicitações, nem os presentes, nem os testemunhos. Serias capaz de amar a propriedade,
se fosses excluindo dela, um por um, como supérfluos, porque particulares demais, o moinho,
o rebanho, a casa? Como construir o amor, que é rosto lido através da urdidura, se não há
urdidura sobre a qual escrever?...”
“…Sem cerimonial de pedras, não haveria catedral.
Nem haverá amor sem cerimonial em vistas do amor. Eu só atinjo a essência da árvore se ela
modelou lentamente a terra segundo o cerimonial das raízes, do tronco e dos ramos. Nessa
altura, ela é una. Tal árvore e não uma outra.
Mas aquela acolá desdenha as trocas, que a haviam de fazer nascer. Ela procura no amor um
objecto capturável. E esse amor não tem significado algum.
Ela julga que o amor é presente que ela pode fechar nela. Se tu a amas, é porque ela te
conquistou. Ela fecha-te nela, convencida de enriquecer. Ora o amor não e tesouro a
conquistar, mas obrigação de parte a parte, fruto de um cerimonial aceite, rosto dos caminhos
da troca….”
(Antoine de Saint-Exupéry, in "Cidadela")
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