terça-feira, 9 de novembro de 2010

Súplica


Às vezes dou por mim a “explorar” as escritas de gentes que não conheço. Esta é uma, entre muitas das minhas fascinações. Como podem as pessoas escrever tão bem? Escrever tudo aquilo que sinto e de uma forma tão sensível, tão real, tão eterna, tão…

Já cheguei a pensar: – Que bonito! Escrevem mesmo o que lhes vai na alma! Sentiram exactamente o mesmo que eu senti…São minhas almas gémeas...

Hummm! Mentira. Mentira pura!  Hoje sei que escrevem muitas vezes o que lhes vem à cabeça e não necessariamente o que lhes vai na alma.

Certo certo para quem lê, é aquilo que consegue ver, sentir, sonhar. Isso sim é o que nos vai na alma.

São as imagens que vimos, os gritos que ouvimos, os gestos que saltam, os sorrisos que nos enviam, as lágrimas que se soltam, a historia que contamos, que colorem o que está escrito. 

São os nossos sentimentos que enchem de beleza o que os outros escrevem.


Súplica

Agora que o silêncio é um mar sem ondas,
E que nele posso navegar sem rumo,
Não respondas
Às urgentes perguntas
Que te fiz.
Deixa-me ser feliz
Assim,
Já tão longe de ti como de mim.

Perde-se a vida a desejá-la tanto.
Só soubemos sofrer, enquanto
O nosso amor
Durou.
Mas o tempo passou,
Há calmaria...
Não perturbes a paz que me foi dada.
Ouvir de novo a tua voz seria
Matar a sede com água salgada.

(Miguel Torga)

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