segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Fera Ferida

Quando pensamos e não dizemos, quando queremos dizer e não podemos, quando temos de ser quem não somos, quando temos de mostrar coisas que não pensamos. Quando o coração quer desabafar e a razão esconde, quando os olhos querem chorar e os lábios têm de sorrir, quando as pernas querem andar e os pés não se movem. Quando temos medo de mostrar o que sentimos e não damos o que somos, quando não queremos magoar e deixamos que nos magoem, quando não nos resta solução se não fingir e continuar a viver …

É tão fácil ser-se e tão difícil ter de viver o que não se é.

Fera Ferida

“Acabei com tudo, escapei com vida, tive as roupas e os sonhos rasgados na minha saída.
Mas saí ferido, sufocando o meu gemido, fui o alvo perfeito, muitas vezes no peito atingido.
Animal arisco, domesticado esquece o risco, me deixei enganar e até me levar por você.
Eu sei quanta tristeza eu tive, mas mesmo assim se vive, morrendo aos poucos.
Eu sei, o coração perdoa, mas não esquece à toa, e eu não me esqueci.
Eu andei demais, não olhei para trás, era solta em meus passos, bicho livre sem rumo sem laços.
Me senti sozinha, tropeçando em meu caminho, à procura de abrigo, uma ajuda, um lugar, um amigo.
Animal ferido, por instinto decidido, os meus rastros desfiz, tentativa infeliz de esquecer.
Eu sei que flores existiram, mas que não resistiram à vendavais constantes.
Eu sei, que as cicatrizes falam, mas as palavras calam, o que eu não me esqueci.
Não vou mudar, esse caso não tem solução, sou fera ferida, no corpo na alma e no coração.”


Composição: Roberto Carlos e Erasmos Carlos/cantada por: Maria Bethânia

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