terça-feira, 16 de outubro de 2007

Momentos

Hoje já é 2ª Feira outra vez.

Este ano está a passar tão depressa que nem eu própria consigo ver o rasto de luz por ele deixado.

Qual Estrela Cadente.

Tudo se passa e se ultrapassa. As coisas boas voam, as más afundam-se, as indiferentes nem se dá por elas.

As vezes é preciso parar, ou tentar parar para se conseguir saborear aquelas palavras, aqueles acontecimentos, aqueles momentos.

Momentos.
Sim Momentos. Os meus momentos. Os meus e só meus, tal qual o Magum.

São tão necessários como o sal. Já contava a historia que a minha tia ouvia no papa discos á algum… tempo… atrás - “«Quero-vos como a comida quer ao sal», assim definiu a princesa o seu amor pelo pai, numa velha história da tradição popular”.

Sem eles a vida torna-se insossa.

E quando finalmente conseguimos parar sentimos o espirito rebentar de tanta agitação.

O peito incha, o respirar é profundo, brutal, enorme volumoso, a expiração é longa.

O coração dispara num frenesim silencioso e anestesiante.
As pernas ficam pesadas, o corpo, esse voa com asas de penas.
As pálpebras descem, deixando os olhos verem o que vai na alma.
A boca fica seca.
Os ombros descaem e a cabeça fica zonza, completamente tonta de prazer.

Estes momentos são únicos e poderosos.
Pequenos ou grandes, são sempre colossais.
Geralmente ampliados pela nossa imaginação, que lhes acrescenta uma pitada de sal aqui um bocadinho de pimenta ali, para que se tornem mais vincados e mais perfeitos.
São assim que eles são guardados dentro de nós como momentos perfeitos.

Momento
Uma espécie de céu

Um pedaço de mar
Uma mão que doeu
Um dia devagar
Um Domingo perfeito
Uma toalha no chão
Um caminho cansado
Um traço de avião
Uma sombra sozinha
Uma luz inquieta
Um desvio na rua
Uma voz de poeta
Uma garrafa vazia
Um cinzeiro apagado
Um hotel na esquina
Um sono acordado
Um secreto adeus
Um café a fechar
Um aviso na porta
Um bilhete no ar
Uma praça aberta
Uma rua perdida
Uma noite encantada
Para o resto da vida

Pedes-me um momento
Agarras as palavras
Escondes-te no tempo
Porque o tempo tem asas
Levas a cidade
Solta me o cabelo
Perdes-te comigo
Porque o mundo é o momento

Uma estrada infinita
Um anuncio discreto
Uma curva fechada
Um poema deserto
Uma cidade distante
Um vestido molhado
Uma chuva divina
Um desejo apertado
Uma noite esquecida
Uma praia qualquer
Um suspiro escondido
Numa pele de mulher
Um encontro em segredo
Uma duna ancorada
Dois corpos despidos
Abraçados no nada
Uma estrela cadente
Um olhar que se afasta
Um choro escondido
Quando um beijo não basta
Um semáforo aberto
Um adeus para sempre
Uma ferida que dói
Não por fora, por dentro

Pedro Abrunhosa/Momento

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