Perdeu-se o Encanto,
Alguém o deixou cair. E eu senti. Senti um vazio imenso.
Esmoreceu. Porque será que estas coisas acontecem de um dia para o outro, ou melhor de um momento para o outro. Não sei, parece-me também que isso não é o importante.
Não era paixão, não era amor, também não era uma simples amizade. Era um encanto.
Um encanto tão especial que começou do nada e acabou do nada
Enquanto pairava no ar fez-me sonhar, sonhar com o dia, sonhar com a noite, sonhar com todas as coisas bonitas que me rodeiam.
Fez-me ver outra vez o verde mais verde, as folhas a cair, o cão que passa na rua, fez-me ouvir outra vez o apito do comboio, o farol do nevoeiro, fez-me sentir outra vez o cheiro da terra molhada, o cheiro do mar a bater nas rochas. Fez-me ter outra vez todos os sentidos alerta, fez-me estar atenta e presente, numa vida há tanto esquecida, perdida num quotidiano rotineiro.
Fez-me sentir leve, sentir feliz, sentir que dentro de mim ainda há uma luz. Uma luz que ainda ilumina.
Fez-me acordar de manha e cantar bem alto para todo o mundo ouvir, fez-me sentir única. Foi muito bom. Senti bem fundo de mim. Tudo foi bonito, existiu, não foi um sonho.
Perdeu-se um encanto, ganhou-se uma experiencia bonita.

(Encantamento) by Cap
Hoje estou num dia passivo
Num dia em as coisas não me tocam por ai alem.
Em que arregaço as mangas e entro na rotina sem grande esforço.
Num dia em que não me sinto nem bonita nem feia, nem carne nem peixe, nem bem nem mal.
Avanço sem perguntar porquê, sem precisar de aval, sem pedir consentimentos.
Nestes dias, o que arrisco não é grande coisa. Também não ganho quase nada.
São dias passivos, apáticos, inertes.
São dias sem graça, sem vida, sem charme.
São dias que passam, são horas que vão.
Perde-se o tempo no tempo e eu já não tenho tempo para perder desta forma. O tempo não perdoa o passar do tempo.
E o problema fica resolvido quando se dá conta, como hoje, de que estes dias acontecem e que amanha não pode voltar a ser assim. Mas isto é… quando se dá conta.
Como sair?
Pensando coisas muito boas. Vendo coisas muito boas. Lendo coisas muito boas. Seguindo coisas muito boas. Fazendo coisas muito boas.
Coisas!
Coisas da Vida…
"As mais lindas palavras de amor são ditas no silêncio de um olhar." (Leonardo da Vinci)
"Ame profunda e passionalmente. Você pode se machucar, mas é a única forma de viver o amor completamente."
(Dalai Lama)
"Só existem dois dias no ano que nada pode ser feito. O ontem e o amanhã, portanto hoje é o dia certo para amar, acreditar, fazer e principalmente viver. "(Dalai Lama)
Finalmente passaram estas datas tão importantes.
Este ano pela primeira vez, dei-me ao trabalho de vasculhar dentro de mim e tentar traduzir em palavras a verdadeira relação entre as minhas reacções comportamentais, sentimentos e emoções e os dias festivos, supostamente importantes, que existem ao longo do ano.
Aniversário, Carnaval, Pascoa, Natal e Passagem de Ano.
Natal… Passagem do Ano…
NATAL…
Época nostálgica, muito nostálgica.
Eu gosto do Natal, ou por outra, eu gosto dos preparativos para o Natal, eu gosto da Missa do Galo.
Todos os anos penso num presente para fazer, artesanalmente, e começo a pôr em pratica uns meses antes do Natal. Gosto de trabalhos manuais. Gosto de ver as minhas ideias a tomar forma, gosto de distribuir e de atribuir qual das coisas é para quem, gosto de dar. Gosto de fazer o presépio, gosto de imaginar a história que me foi contada ao colocar cada peça no local onde nesse dia a imaginei, gosto de contar essa história aos meus filhos. Gosto da contagem decrescente e dos calendários do advento, da distribuição dos chocolates todos os dias a seguir ao jantar, gosto das músicas de natal, gosto do frio, gosto do cheiro a lenha queimada nas ruas, gosto da chuva a bater nas janelas. Gosto de ver as pessoas felizes. Gosto das cores do Natal, gosto do azevinho e do seu conto *. Gosto do Pai Natal e de toda a fascinação que ele envolve. Gosto de elaborar a ementa de Natal e de organizar os festejos, de distribuir tarefas e de espalhar velas por toda a casa *. Gosto de fazer as coisas com calma, com sentido e com sentimento.
Acontece que devo ter expectativas muito altas e quando o Natal acontece o ânimo vai-se.
Mas eu Gosto da Magia do Natal.
Nestes dois dias de festas o tempo voa. Passa tudo tão depressa, que nem se chega a sentir a magia de que tanto falo e que senti algures e que gosto tanto.
A fobia da abertura dos presentes (desembrulha-se em 5 segundos o que se embrulhou durante dias). Já não se encena a chegada do Pai Natal, com sininhos e os OH!OH!OH! de voz grossa. Já não se ouvem risinhos nervosos e descontrolados das crianças à espera, atrás das portas, e musica e sapatinhos, espalhados pela sala, a transbordar de presentinhos. Já não se dá um beijinho ao menino Jesus antes de o pôr no presépio e se canta uma ou várias músicas para o embalar a para o confortar. Já não se reza em agradecimento, pela sorte de ter um sapatinho tão atulhado e ao mesmo tempo a rebentar de curiosidade e vontade de abrir todos aqueles embrulhos.
A trapalhada é tal que já nem se sabe “a qual dos meninos Jesus se deve agradecer”. Pais, padrinhos, tios, avós, enteados, padrastos e madrastas, e toda uma panóplia de membros das famílias de hoje, vão perguntando: - Já tinha? Gostou? Espero que sim! Quer trocar, posso dar o talão! Só tem 15 dias para trocar. E os pais dizem: - Tem de agradecer à Avó, ao Tio, a Tia, ao Padrinho… Então afinal quem dá os presentes não é o Menino Jesus? E quem os distribui para o ajudar não é o Pai Natal? Então agradecer a todos porquê? Porquê tanta pergunta, tanta aflição…
A fobia da “arrumação dos presentes das crianças”. Assim como se dá, assim como se tira. Não há tempo para nos deitarmos no chão, abrir as embalagens calmamente a seu lado, brincar e montar os sonhos que fizeram crescer dentro deles ao longo desse mês. Tem de se apanhar rapidamente os papéis de embrulho, dos megas presentes, abrir as embalagens o menos possível para os conseguir enfiar rapidamente em sacos portáteis e para que as peças não se espalhem e não se percam e também para que as crianças não se envolvam demasiado.
A fobia do “depressa que temos de partir para o Natal seguinte”, o trabalho que envolve cada almoço, lanche ou jantar (por mesas, rechear e repor travessas, loiça para trás e para a frente, põe maquinas a lavar, tira maquinas lavadas) crianças a gritar – Não tenho fome quero brincar. Nós a ralhar atrapalhadas entre panelas e fitas de embrulho – Tens de almoçar e não te portes mal se não o Menino Jesus da Avó não te dá presentes e sim rolhas. A pressa do arrumar de nos despedir e avançar para o próximo, só relaxando quando se entra na Missa do Galo.
A missa do Galo… Aí sim… Começa a verdadeira Magia.
Sentamo-nos, aconchegamos os casacos e os vários agasalhos, respiramos fundo, fechamos os olhos e deixamo-nos embalar pelas rezas e pelos cânticos, há meia-luz de uma hora já avançada e pesada de tanta correria. Sentimos o frio a entrar pelas narinas, o calor das pessoas que estão ao nosso lado e do nosso lado, a paz que os cânticos e as rezas nos transmitem, a magia a entrar provocada pelo sono e pelo cansaço do longo dia de agitação.
A chegada a casa! Uma tristeza.
O ambiente frio, sem aquecimento e sem calor humano. Nem chocolate quente na cozinha, nem um sorriso de mãe, nem as gargalhadas das crianças, só gemidos de cansaço e uma pergunta entre bocejos - Amanha temos mais presentes???
O dia Seguinte! Mais um dia de correrias, de amuos, de gritos, de pesadelo, de expectativas não alcançadas ...
Balanço destes dois dias, um cansaço imenso, um saco cheio de presentes e um vazio enorme no coração.
Faz-me falta O NATAL…
*Conto do Azevinho
O azevinho é o símbolo do Natal. Porque estendeu os seus braços, verdes e com picos, durante a fuga da Sagrada Família para o Egipto para assim esconder Maria e o Seu Filho e impedir que os soldados de Herodes matassem o Menino Jesus.
Então Maria, em agradecimento, abençoou o azevinho, que desde então, permaneceu sempre verde e brilhante.
*Tradição do Natal
Segundo a tradição, as misteriosas e incandescentes velas de Natal representam a luz de Cristo, a luz da Vida.
Para os cristãos, o Natal é a comemoração do nascimento de Jesus Cristo. É uma festa de luz e de vida.
É certo que as palavras não foram feitas para magoar, nem mesmo o tão malfadado não, mas certo é que magoam.
Magoam e não é pouco. Já dizia Shakespeare :
“ Ninguém pode calcular a potência venenosa de uma palavra má num peito amante”
Parece-me que, e em meu entender as palavras mal escolhidas nas alturas não próprias caem que nem bombas nos peitos apaixonados...
Peitos apaixonados são desconfiados, são carentes, são desmedidamente inquietos, ansiosos, ávidos de atenção, descrentes, ofegantes e por vezes até doentes.
Peitos apaixonados não precisam de falar, precisam de sentir, precisam de entender e de ser entendidos.
Toda a vida me disseram que “ Assuntos de Amor” não se falam, não se dizem, sentem-se e fazem-se sentir.
Os grandes escritores escrevem-nos. Têm essa capacidade, nós, comuns mortais temos de nos limitar a ler e no máximo a sentir. Mas falar sobre…
Voltando à “Vaca Fria”, o que magoa são aquelas palavras que não estão no nosso dicionário de amantes, aquelas que traem os nossos sentidos. Em suma, tenho de exercitar mais o Silêncio ou então de praticar mais a palavra.
“O exercício do silêncio é tão importante quanto a prática da palavra ” William James