Em cada esquina aparece um e ainda nos vestimos de outros tantos.
Hoje percebo cada um que aparece e cada um que visto. Até já acho graça e reconheço que faço por ter mais alguns. Já não estranho grande coisa, até estranhar! Claro está! Há sempre a possibilidade de aparecer o improvável.
Afirmo e reafirmo que temos tantos eus quantos nós quisermos. Um em cada situação, um para cada pessoa, um em cada minuto. Vou mais longe, conseguimos, até para nós próprios, ter eus completamente distintos.
Esta realidade não é linear para o comum dos mortais, até mesmo para quem achava que os eus diferentes existiam porque a aprendizagem nos faz diferentes a cada passo e, por isso o eu de hoje nunca poderia ser o eu de amanha. Mas eu arrisco a dizer que, para além desta aprendizagem existe o que gostaríamos ou não de ser, ter sido ou feito e invariavelmente pomos em nós um bocadinho disso, como se de condimentos se tratassem, o que nos torna diferentes a todo o momento. Quantas vezes me espanto com o que sou!
Outra verdade é que gostamos de nos esconder nos vários eus e muitas vezes entre eles.
Sim, esconder. Sei deste jogo melhor do que ninguém. “Não basta ser é preciso parecer” dizia a minha Avó. Mas eu sou de opinião de que nem sempre é preciso parecer, o ser, assim tão só, basta-me.
A partir daqui vem a loucura completa, a vida pode começar a cada segundo de uma forma diferente sendo o medo o único condicionalismo.
Não, ainda não enlouqueci, mas o meu eu louco anda ai.
Acrescento um excerto do Blog "Privilégio dos Caminhos" o primeiro blog que segui na minha vida e onde aprendi quem era Fernando Pessoa: Uma flor amarela é só uma flor amarela? Resposta do Mestre Caeiro a Alvaro de Campos (a propósito do conceito directo das coisas) "Há uma diferença, acrescentou. "Depende se se considera a flor amarela como uma das várias flores amarelas, ou como aquela flor amarela só."(....)
Toda a coisa que vemos, devemos vê-la sempre pela primera vez, porque realmente é a primeira vez que a vemos. E então cada flor amarela é uma nova flor amarela, ainda que seja o que se chama a mesma de ontem. A gente nao é já o mesmo nem a flor a mesma. O próprio amarelo não pode ser já o mesmo. É pena a gente não ter exactamente os olhos para saber isso, porque então éramos todos felizes".
Alvaro de Campos,in "Notas para a Recordação do meu Mestre Caeiro", pag. 40, 41- Edições Estampa.
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