Há coisas que vêm a calhar.
No outro dia lembraram-me e muito bem que existe um espaço
na nossa cabeça completamente vazio, a “nothing box” e que, de vez em quando, se
entra em “nothing box mode”.
Nunca pensei muito nisto, confesso. Um dia mostraram-me os filmes do
youtube,
achei graça, ri que nem uma perdida, encaixei e por ali ficou. Não
relacionei minimamente.
Agora o assunto voltou à baila e numa simples afirmação eu
senti exactamente o que é estar neste “mode”. Na minha linguagem sempre lhe
chamei “estar oca”.
Nunca me senti muito bem quando entro neste campo. Sinto-me
estúpida, sem conversa, sem ideias, sem pensamentos, sem vontades, sem nada. Deixam-se
espaços em branco que só é possível serem vividos em conjunto quando se tem um
grande à-vontade no silencio. Se são momentos é mais fácil de disfarçar, se são
fases a coisa complica-se e aí, fecho-me no meu mundo. Estes brancos nunca são
muito bem vistos vindos da condição feminina.
Hoje, dei por mim sentada na varanda com uma parede à frente
dos meus pensamentos. Mal os pressentia eles batiam nela e faziam ricochete
voltando para o lugar que lhes pertencia. Quando isto acontece ponho-me
geralmente em sentido e tento contrariar e não deixar a cabeça parar.
Estar Oca só me é permitido quando tenho afazeres que me
permitam não mostrar aos outros o meu estado. Tirar fotografias é uma delas.
Hoje não, hoje deixei-me dessas coisas, atirei para trás das
costas o que podem ou não pensar e dei-me espaço. Não me apetecia ter a cabeça
cheia, esvaziei-me. Todas as ligações emocionais entrelaçadas entre si,
desligaram-se e eu senti a realidade em directo, sem passado, sem futuro.
Surpresa! Senti-me liberta ou melhor senti nada e nada
soube-me bem. Foi então e depois de umas horitas valentes neste “mode” que tomei
consciência e percebi que estava na minha “nothing box”. Ela existe também para
mim e desta vez não me senti mal, afinal "nothing box" é "nothing box" e não há nada de mal nela.