Mais um momento sem palavras!
Ou cheia delas...
Tão cheia delas que não sai nenhuma. Atropelam-se, apinham-se, baralham-se, querem tanto sair e todas ao mesmo tempo que acabam por se atrapalhar e esbarrar umas nas outras.
Ou cheia delas...
Tão cheia delas que não sai nenhuma. Atropelam-se, apinham-se, baralham-se, querem tanto sair e todas ao mesmo tempo que acabam por se atrapalhar e esbarrar umas nas outras.
Assim não tenho outro remédio se não roubar as palavras de
outros para mostrar o que sinto e o que me vai na alma.
"Foi um momento
O em que pousaste
Sobre o meu braço,
Num movimento
Mais de cansaço
Que pensamento,
A tua mão
E a retiraste.
Senti ou não ?
Não sei. Mas lembro
E sinto ainda
Qualquer memória
Fixa e corpórea
Onde pousaste
A mão que teve
Qualquer sentido
Incompreendido.
Mas tão de leve!...
Tudo isto é nada,
Mas numa estrada
Como é a vida
Há muita coisa Incompreendida...
Sei eu se quando
A tua mão
Senti pousando
‘Sobre o meu braço,
E um pouco, um pouco,
No coração,
Não houve um ritmo
Novo no espaço?
Como se tu,
Sem o querer,
Em mim tocasses
Para dizer
Qualquer mistério,
Súbito e etéreo,
Que nem soubesses
Que tinha ser.
Assim a brisa
Nos ramos diz
Sem o saber
Uma imprecisa
Coisa feliz."
Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"
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