É tudo tão falível, é tudo muito terreno.
O que existe hoje, amanha é uma grande incógnita.
No outro dia encontrei um búzio. Um búzio nem pequeno nem grande, nem dos mais bonitos, nem dos mais feios, mas inteiro.
Inteirinho! Solitário, gasto, de arestas limadas e cores esbatidas, mas intacto, bonito e cheio dele. Imponente.
Estava encostado a uma alga verde grande e aconchegadora e bem ao lado daquelas assustadoras rochas cheias de bicos.
Deve ter andado por ali às voltas, a ir e voltar, a bater e a levar ate a maré o largar e ele conseguir descansar, junto a todas as outras conchas e búzios que por ali vagueavam.
Na altura fiquei espantada. Como é que ele, coisa tão frágil, conseguiu sobreviver a tanta brutalidade, a tanta agitação. Como é que ele, coisa tão delicada conseguiu resistir no tempo e a climas tão agrestes.
Esta descoberta fez-me pensar e foram-se alguns dias até eu perceber o que ele me fez sentir, ali tão inteiro, tão bonito e tão orgulhoso.
Aprendi por mim e com as minhas turras, que um amor tem de se cuidar todos os dias a todo o minuto. È certo que há dias e dias, mas ainda assim é preciso cuidar.
Podemos bater, podemos levar, mas temos de ter atenção às pancadas, porque há batidas que são fortes mas que, se forem dadas na altura certa e no sítio certo não partem, limam arestas. Outras que, mesmo pequeninas e leves, nos partem e nos deixam irreversivelmente danificados e desgastados.
O amor é como os búzios e como as conchas. Uns mais fortes, outros mais fracos, todos eles começam bonitos e inteiros, mas com o tempo e com as pancadas vão-se estragando e despedaçando.
O Amor é como os búzios e como as conchas. Uns chegam intactos ligeiramente moídos mas bonitos, outros entregam-se partidos mas com formas, outros jazem quebrados e desfigurados.
Cuidar de um amor é como cuidar de uma concha. Temos de zelar por ele todos os dias, com muita parcimónia e ter em atenção toda a sua fragilidade.
Feliz e orgulhoso o que chega inteiro. Foi cuidado e soube cuidar.
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