quinta-feira, 27 de agosto de 2009

O Brilho da Vida


Já deu para perceber e vê-se pelas minhas fotografias, pelas minhas palavras, pelos meus gestos, que eu só gosto do que brilha.

O Sol, a Lua, o mar, o luar, as estrelas, o sorriso, os olhos, o branco, a luz, a simplicidade, a inteligência, o cristal, a transparência, a limpeza, a manha, o orvalho, a lágrima. . .

"Os ombros suportam o mundo
Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.

Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.

Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação."

(Carlos Drummond de Andrade)

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