Há alturas em que o coração sente necessidade de se fechar.
Parece que o mundo a nossa volta fica a pairar e não assenta.
Nada do que se passa tem a ver connosco.
Se nos tornarmos invisíveis tanto
melhor.
Não há sentimento que entre, não há musica que se oiça ou cheiro, ou som, ou sabor, que nos avive a memória. Todo o nosso corpo evita entrar em confronto
com o que quer que venha do passado, presente ou futuro.
Não há lágrima fácil,
não há reação, não há sentimentalismos nem emoções no ar.
O medo fecha a porta. A vontade desaparece e entra uma
frente gelada e cinzenta que nos faz cerrar os dentes, fechar a boca e olhar em
frente.
As conversas e os passos são mecânicos, abruptos e compulsivos,
arrastam-nos para a frente sem olhar para o caminho que fazemos.
O coração fica impenetrável.
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