Fomos por uma estrada de terra até lá chegar. Parei milhentas vezes para tirar fotografias. Tudo me parecia bonito.
Hoje em dia percebo o meu amigo Monet. Quando vi a sua obra, à quase 40 anos atrás e me apaixonei por ela, não percebi porque é que o homem pintava 20 mil vezes a mesma coisa, de manhã, à tarde, à noite, na primavera, no verão, com sombras, sem sobras, em dias de chuva, em dias de sol, com tinta, sem tinta, enfim uma panóplia de situações diferentes de luz e de cor. Pensei que cada um era como cada qual e que o artista tinha mas era pancada. Gostava de experimentar as cores, estava visto!
As coisas que pintava até eram bonitas, lindas mesmo, mas vá-se lá perceber as suas sensibilidades.
Hoje em dia, quem tem panca sou eu. Por mais vezes que passe num sítio que eu ache bonito, sinto-o sempre diferente. A incidência da luz, a envolvente e até o meu estado de espírito, dão-lhe cores distintas, tornando-o ainda mais bonito a cada passagem.
Por isso, cheguei à conclusão de que mais valia ter ido a pé até ao rio do que ter ido no carro e sempre a gritar: - Espera. Pára! Pára, que era mais atrás. Oh! Era só um bocadinho mais à frente. Aqui! Aqui, lindooo. Que bonito! É só mais só mais uma, agora dali, agora daqui…
Este percurso demorou eternidades e eu contribuí para a tresloucação de toda a minha família, que já ia cheia de fome (com um feitiozinho de susto).
Depois de chegar, vi-os a atacarem a lancheira. Nem tempo de nos instalar convenientemente, tivemos. Foi aqui que tive saudades dos piqueniques da minha Avó. Quando chegávamos, já tínhamos tudo prontinho. Uma toalha ao comprido no chão, num sitio escolhido a dedo, e com todas as iguarias espalhadas com método. Era chegar e atacar. Aqui não. Foi a proporia da selvajaria
Todos ao molho e fé em Deus.
- Passa-me o pão, não o PÃOOOO, e a salsicha. Ei, ouviste, podes-me passar também uma SALSICHA. Já agora põe aqui a mostarda. Aiiiii!! Não, eu não gosto de maionese, pronto já entornaste o frasco. Xiii! Esta tudo molhado, onde estão os guardanapos. Batatas fritas? Boa, mas eu pedi o queijo. Quem roubou o meu copo. Brrr! Não era este, este é cerveja o meu tinha sumo. Eh lá! Cheira a Ovo! Pufff. Ovo, trouxeram ovos?? Eu quero ummmm, e o sal? Veio?
No meio da confusão vejo o cão saltar, todo contente, com uma salsicha na boca e a minha filha mais pequena aos gritos atrás dele: Estúpido! Isso é meu. Dá cá, já não te bastava ter roubado o pão, agora também as salsichas. Dá-me é minha... E, esta foi a gota de água.
Dei meia volta e deixei-os naquela barafunda. Fui passear para a beira do rio, ninguém iria dar por mim. Afinal a culpa daquilo tudo era mesmo minha.
Depois de meia hora, dignei-me a voltar. Já estava tudo bastante mais calmo e até deram pela minha falta. Mas tiveram o bom senso de não me procurar. Alguém disse, que me podia ter dado alguma aflição, contou-me a mais pequenina, com grandes gestos e muito concentrada no que dizia
Comi a minha salada que sobreviveu ao ataque e deitei-me no chão a apanhar um bocadinho de sol. Para a próxima será mais organizadinho.
6 comentários:
Êta piquenique calminho e organizado... (muitos risos)
Querida Sunsum, que discrição super gira de um piquenique, é mesmo assim,tudo bem organizado só nos filmes...depois são uma xatice, bem divertido, bjs da cunhada
Muito organizado mesmo, Mike :))
Não faltou confusão, principal ingrediente de um bom piquenique!!
(risos)
Nem ovos cozidos!!! (risos)
Oh Cunhada, és mesmo querida.
Os da minha avó eram bem mais organizadinhos.
Mas o que fizemos em mil fontes também teve graça. Ah, e também não lhe faltou o ovo cozido, gosto deste requinte, ovo cozido. Embucha que eu sei lá e não precisamos de mais coisa nenhuma, só de umas cervejinhas para desembuchar. ;)
Cozidos??? Mas assim não dão para atirar à cabeça de ninguém, ora... ;D
Dão pois, e garanto que ficam muito mais sossegadinhos durante uns tempos. (risos)
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