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Entre passeios e estudos ficou a certeza de que a melhor
companhia é aquela que temos na altura, mesmo que seja só a nossa. O prazer que
me deu o meu passeio de hoje, só eu sei. A alegria que encontrei em cada passo
dado, o contentamento com que dei azo aos meus pensamentos, a felicidade que
senti a ouvir as minhas músicas preferidas, o gosto que me deu olhar para
aquela imensidão de mar, sentir aquele cheiro, ouvir aquele som, cheguei a ter
vontade de dançar, de cantar e de abraçar.
Há uns anos morria de medo de estar sozinha. A minha
companhia não era tida em conta nem a considerava como tal. Sentia-me
pequenina, sozinha, indefesa, ficava mesmo assustada quando isso acontecia, não
sabia o que fazer às mãos, nem o que pensar, assaltava-me uma vontade incrível
de chorar, que só parava quando alguém chegava. Paralisava por completo, sem
saber o que pensar, o que fazer ou para onde ir. Esta dependência era brutal e
quanto mais era mais era. Até que um dia a minha lista de intenções de ano novo
teve um novo item: deixar de ter pena de mim própria e mudar. Nascemos sozinhos
e morremos sozinhos, então “bora” lá.
Não foi fácil. Era preciso que não paralisasse, era preciso ter
atitude, era preciso ter ideias, afastar o medo em vez de o alimentar.
Criar o meu espaço, demorou muito mais de que um dia eu
poderia ter imaginado e foi bem mais complicado do que aparentava. Foi
necessário encontrar um ou dois portos de abrigo onde me pudesse esconder no
caso de não conseguir aguentar, dúzias e dúzias de listas de coisas que sempre
quis fazer e que nunca tive tempo ou coragem, desprender-me de alguns
preconceitos estúpidos, hipócritas e antiquados, reencontrar alguns valores e conceitos
antigos, virar a minha forma de pensar e encontrar novas prioridades com
sentido na minha forma de caminhar.
Qual não foi o meu espanto…Os meus valores e os meus
quereres começaram a entrar em conflito, mas já não havia volta a dar, o
caminho estava já traçado e o anterior já bloqueado. Foi época de muita
turbulência, instabilidade e insegurança.
Bastaram alguns aninhos de esforço diário.
Hoje finalmente dei-me conta que começo a ter o retorno
deste trabalho infinito. Dei por mim a ter prazer em estar e andar sozinha, em
apreciar o que me rodeia, avançar sozinha para sítios que há uns poucos anos a
esta parte seria completamente impensável, a ter sonhos muito mais arrojados, a
fazer programas sem estar dependente de quem quer que seja e tantas outras
coisas que me eram interditas até no pensamento.
Foi uma vitoria
e tanto…