Não há nada pior do que ter coisas para dizer e não as poder
dizer.
Sinto-me a rebentar.
Também não sei bem onde é que vou arranjar tanta
coisa que gostaria de dizer. Devo ser
uma mulher de “muitas” palavras!
Muitas
palavras por dizer, está bem visto, porque das trezentas e cinquenta e sete mil
que digo a cada cinco minutos, muito mais de metade deveriam ficar por dizer.
O facto
é que as coisas vão-se acumulando, paginas tantas, deixa de haver espaço físico
para elas se acomodarem e começa tudo a entrar em curto-circuito. Consigo comparar
este pequeno incidente ao meu computador. Também ele tem um espaço, também ele
rebenta se não o limparmos. Só que um computador é relativamente fácil de
limpar e tornar a utilizar. As coisas que não prestam deitam-se fora, as que
não sabemos, guardamos mais um tempo até elas deixarem de ter a importância que
ainda lhe atribuímos. As importantes guardamos e eventualmente passamos para um
disco externo a fim de as guardar bem guardadinhas e elas não ficarem a ocupar
espaço. Mas os nossos pensamentos, as nossas palavras, os nossos sentimentos?
Como atira-los para o lixo, como fazer para lhes dar menos importância, como
obriga-los a ocuparem menos espaço dentro de nós?
É que já me apercebi de que as recordações e as coisas
resolvidas estão guardadas em caixas muito bem arrumadinhas. Parece até que
estão compactadas e desta forma cabem e cabem e cabem.
As coisas que não estão resolvidas, não são passiveis de
serem guardadas, nem compactadas. Pelo contrario, reproduzem-se em filmes
infindáveis, inaceitáveis, indecifráveis, andam para aqui de um lado para o
outro sem resolução aparente, não encaixam de forma alguma, acumulam até que
deixa de haver espaço e aqui é que são elas. Começam as gafes, desdobram-se os
enganos, os disparates multiplicam-se ajudando a aumentar a informação
existente e a arranjar mais adornos, mais coreografias possíveis e cenas ainda
não detectadas anteriormente. Começam os efeitos colaterais...
Essencialmente tristeza. Sim, tristeza...
É triste sentirmo-nos inibidos, é triste ter de encobrir as
palavras, é triste calar os sentimentos É triste não poder falar tudo o que nos
vai na alma!
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