quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

As palavras que nunca direi



Não há nada pior do que ter coisas para dizer e não as poder dizer. 
Sinto-me a rebentar. 
Também não sei bem onde é que vou arranjar tanta coisa que gostaria de dizer. Devo ser uma mulher de “muitas” palavras!   
Muitas palavras por dizer, está bem visto, porque das trezentas e cinquenta e sete mil que digo a cada cinco minutos, muito mais de metade deveriam ficar por dizer. 
O facto é que as coisas vão-se acumulando, paginas tantas, deixa de haver espaço físico para elas se acomodarem e começa tudo a entrar em curto-circuito. Consigo comparar este pequeno incidente ao meu computador. Também ele tem um espaço, também ele rebenta se não o limparmos. Só que um computador é relativamente fácil de limpar e tornar a utilizar. As coisas que não prestam deitam-se fora, as que não sabemos, guardamos mais um tempo até elas deixarem de ter a importância que ainda lhe atribuímos. As importantes guardamos e eventualmente passamos para um disco externo a fim de as guardar bem guardadinhas e elas não ficarem a ocupar espaço. Mas os nossos pensamentos, as nossas palavras, os nossos sentimentos? Como atira-los para o lixo, como fazer para lhes dar menos importância, como obriga-los a ocuparem menos espaço dentro de nós?
É que já me apercebi de que as recordações e as coisas resolvidas estão guardadas em caixas muito bem arrumadinhas. Parece até que estão compactadas e desta forma cabem e cabem e cabem.
As coisas que não estão resolvidas, não são passiveis de serem guardadas, nem compactadas. Pelo contrario, reproduzem-se em filmes infindáveis, inaceitáveis, indecifráveis, andam para aqui de um lado para o outro sem resolução aparente, não encaixam de forma alguma, acumulam até que deixa de haver espaço e aqui é que são elas. Começam as gafes, desdobram-se os enganos, os disparates multiplicam-se ajudando a aumentar a informação existente e a arranjar mais adornos, mais coreografias possíveis e cenas ainda não detectadas anteriormente. Começam os efeitos colaterais...
Essencialmente tristeza. Sim, tristeza...
É triste sentirmo-nos inibidos, é triste ter de encobrir as palavras, é triste calar os sentimentos É triste não poder falar tudo o que nos vai na alma!

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