Estou há séculos para
entrar num assunto que não é nada fácil de abordar e muito menos de descrever.
Nestas coisas do coração e da razão há sempre muito a dizer
e nada de novo para contar.
Fala-se sempre em vazios, cantos escuros, expectativas
destroçadas, desencontros, dor, ou então, em encontros, alegria, felicidade
plena, luz, beleza ...
Só há o oito e o oitenta. Raramente os outros 78 são
chamados para o caso. O que me remete para os extremos.
A intensidade sente-se nos extremos. Guerra e paz,
paixão/ódio, o claro versus o escuro, o Sol e a Lua, nascer e morrer.
Em cada extremo metemos a nossa intensidade máxima e
sentimos na pele a dor ou a alegria de viver.
O intermédio, o médio, tudo o que está no meio, é sempre
qualquer coisa pouca, meio medíocre, ou pelo menos assim o consideramos, não é
pleno, não é merecedor de conversa, de analise, não é sentido na verdadeira
acessão da palavra, não tem interesse e por isso, geralmente fazemos questão de
nos esquecer, passar por cima ou mesmo de fingir que não existiu. Isto faz com
que a existência do comum dos mortais seja apagada e que o dia-a-dia se traduza
em indiferença e rotina.
Uma vez chegado aqui, percebo que a minha vida está neste
meio. Sem interessa de maior, apagada, reduzida à sua insignificância. Até
metade dela acreditei que poderia ser alguém. Sonhei que poderia ser uma das
melhores ginastas que o mundo já alguma vez viu, que eventualmente teria
hipóteses de ser uma belíssima nadadora cheia de records mundiais, continuei a
acreditar que um dia seria a melhor medica deste planeta e mais tarde
limitei-me a querer ser a melhor mãe do mundo, mas rapidamente me apercebi que
sem livro de instruções seria muito difícil... No fim de cada etapa, quando a
esperança morria, olhava em redor com alguma pena de mim própria, até que um
dia, percebi que sonhar faz-nos chegar longe, mas nunca tão longe quanto o
próprio sonho, que o médio é o comum e que nem por isso é menos do que outro
qualquer. Que a felicidade não depende do que se consegue fazer bem, mas sim do
que conseguimos tirar em proveito próprio no nosso dia a dia . Percebi que temos
de por intensidade em tudo o que fazemos e passei a acreditar que a felicidade
é o que quisermos.
"Enquanto
houver um louco, um poeta e um amante haverá sonho, amor e fantasia. E enquanto
houver sonho, amor e fantasia, haverá esperança."
(William Shakespeare)