quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

Ame-se o suficiente para saber quando ir embora


Que assim seja!
"Quando fazemos tudo para que nos amem e não conseguimos, resta-nos um último recurso: não fazer mais nada.
Por isso, digo, quando não obtivermos o amor, o afeto ou a ternura que havíamos solicitado, melhor será desistirmos e procurar mais adiante os sentimentos que nos negaram. Não fazer esforços inúteis, pois o amor nasce, ou não, espontaneamente, mas nunca por força de imposição. Às vezes, é inútil esforçar-se demais, nada se consegue;
outras vezes, nada damos e o amor se rende aos nossos pés. Os sentimentos são sempre uma surpresa. Nunca foram uma caridade mendigada, uma compaixão ou um favor concedido. Quase sempre amamos a quem nos ama mal, e desprezamos quem melhor nos quer. Assim, repito, quando tivermos feito tudo para conseguir um amor, e falhado, resta-nos um só caminho...o de mais nada fazer."
(Clarice Lispector)

Aprendizagem



É estranho quando as verdades nos entram pelos olhos a dentro sempre que precisamos.

Hoje entrei na garagem e cheia de pressa, carreguei no botão que chama o elevador e esperei mais ou menos pacientemente. Mas o tempo de espera foi tão grande e a quantidade de coisas que ainda tinha para fazer era tanta, que comecei a ficar mesmo irritada e soltei um palavrão qualquer sem reparar no senhor asiático que estava ao meu lado. Quando me dei conta do que tinha feito olhei para ele com ar de comprometida e pedi desculpa e foi ai que muito calmo e com o ar mais simpático deste mundo, disse – “ A nossa paz interior é sagrada, não a percas com estas coisas!”. Foi tão, mas tão certeiro que fiquei ainda mais envergonhada e sem expressão a olhar para a porta do elevador.

Vá lá que ainda tive reacção para fazer um sorriso amável e agradecer a dica.

Mas fez-me ficar a pensar – “Que raios de coisas ou situações merecerão a perda da nossa paz.”, ainda não me surgiu nenhuma.

Sempre a aprender.

segunda-feira, 28 de maio de 2018

Viagem




Há pessoas que vão e não voltam. 
E nesta não volta, nesta caminhada
Até ao infinito
há sombras que ficam para sempre
E pegadas que nos guiam. 
Uma aprendizagem que 
na ausência cria significado
e hoje é um e, amanha outro.
Um sem fim de perguntas e respostas
quais ondas infinitas
que se unem num horizonte longínquo
proporcionando cor e musica e 
sentido, que fica para sempre
nos nossos ouvidos, nos nossos 
sentidos e no nosso coração.
Há viagens que não têm volta.

By me


segunda-feira, 24 de julho de 2017

Datas


Datas valem o que valem
Sim, datas, ano/mês/dia/hora.

Acontece que a nossa vida é gerida por elas.
A data da nascença, do baptizado, do primeiro dente, da primeira sopa, do primeiro encontro…
São datas, que marcam a nossa vida, são datas que comemoramos, são datas que choramos...

As datas são definitivamente importantes.

E eu não sou diferente.

A minha vida resume-se a um conjunto de datas que guardo ou não conforme o que representam.
As que não gosto não retenho, as que gosto guardo no calendário as outras não preciso guardar, fazem parte de mim e não abro mão de as comemorar como puder, mesmo que sozinha.



sábado, 22 de julho de 2017

O Sentido da Vida


Mais uma vez acho graça à forma como vamos descobrindo sentido naquilo que nos rodeia e que nunca prestámos atenção. E digo que acho graça, porque me faz sorrir e pensar, porque me desafia. A nossa experiência de vida dita-nos a nossa forma de ver o mundo, as pessoas que nos rodeiam, as frases que dizemos a maneira como pensamos e julgamos, a nossa compreensão perante os factos.

Por isso a vida é uma constante descoberta. Aquilo que que vimos hoje amanha já não igual. Alberto Caeiro passava a vida a dizer o mesmo. Está registado em cada poema. A vida é um espanto a todo o momento e isso surpreendia-o a ele e a mim tantas vezes e cada vez mais.

Hoje foi este pequeno texto que me chamou a atenção. Estou especialmente sensível para esta questão, é o isto quer dizer.

"No começo eu era só certezas.
No meio eu era só dúvidas.
Agora é o final
e eu só duvido."
Mario Quintana
O que escrevo só irá fazer sentido para quem estiver no mesmo mood. Isso diverte-me, tanto como me diverte ler este pequeno texto do Quintana e captar o meu sentimento mais premente.É também assim que nos aproximamos e nos afastamos das pessoas. As afinidades formam-se do que experimentamos, do que vivemos, onde chegamos. Daqui surgem as cumplicidades, que nos unem que nos fazem ver o mesmo sentido. Se desaparece o sentido, desaparece a pessoa, se desaparece a pessoa, deixa de fazer sentido.

sexta-feira, 14 de julho de 2017

Já fizeram as pazes?



Infelizmente a maior parte dos assuntos da vida dos adultos não se resolvem assim!
Mas que é genial é


“Amigos
- Já fizeram as pazes?
- Já.
- Como é que foi?
- Eu disse-lhe olá.
- E ele?
- Disse olá.
- E depois...?
- Fomos brincar.
- Não falaram sobre a vossa zanga?
- Não havia nada para falar... Já não estamos zangados.
(Inês Teotónio Pereira in "A um metro do Chão")



"A verdade não é, de modo algum, aquilo que se demonstra, mas aquilo que se simplifica."
Antoine de Saint-Exupéry

quinta-feira, 13 de julho de 2017

Um amor antigo



Um dia ou melhor um grande grande dia, encontrei quase tudo o que procurei na minha vida toda.

De certo modo tive a oportunidade que sempre pedi. 

Presenciei, acompanhei e saboreei momentos únicos e inesquecíveis. Entrei num mundo que não era o meu, vivi momentos que não me pertenciam por natureza, encontrei companheirismo e aceitação, fui verdadeiramente bafejada pela sorte, presente inesquecível que o universo me proporcionou.

Não sei se algum dia poderei agradecer convenientemente o tanto que ri e aprendi.

Não sei se algum dia poderei aceitar convenientemente não ter conseguido parar o tempo.

O verdadeiro Amor, o antigo, é e continua a ser verdadeiramente inspirador e motivador.  

Neste momento fica a saudade, a nostalgia e a alegria desses momentos fabulosos, vividos intensamente e sem filtros.

Neste momento fica a esperança que um dia eles possam voltar a ser uma realidade.

Neste momento fica o vazio das palavras que nunca se disseram.

Neste momento fica o suspiro de um sonho já vivido e outro que ficou por viver.

O Amor Antigo
O amor antigo vive de si mesmo,
não de cultivo alheio ou de presença.
Nada exige nem pede. Nada espera,
mas do destino vão nega a sentença.

O amor antigo tem raízes fundas,
feitas de sofrimento e de beleza.
Por aquelas mergulha no infinito,
e por estas suplanta a natureza.

Se em toda a parte o tempo desmorona
aquilo que foi grande e deslumbrante,
o antigo amor, porém, nunca fenece
e a cada dia surge mais amante.

Mais ardente, mas pobre de esperança.
Mais triste? Não. Ele venceu a dor,
e resplandece no seu canto obscuro,
tanto mais velho quanto mais amor.

Carlos Drummond de Andrade, in 'Amar se Aprende Amando'