domingo, 22 de abril de 2012

Será que chegou a hora de deixar ir?


No dia em que a minha mãe morreu, uma Tia disse-me que eu tinha de A deixar ir em paz. E eu pensei muito nessa noite, lembro-me que se da minha cabeça não saiu fumo, pouco faltou. O que seria isso de A deixar ir em paz?

Cheguei à conclusão que apesar da dor, e da minha vida fazer pouco sentido sem ela naquele momento, eu tinha tido a sorte de ter tido uma mãe presente e linda até à altura. Ora eu tinha tirado partido de tudo o que ela me quis dar, retive o que era importante da sua companhia, tivemos as nossas desavenças como faz parte, tivemos as nossas alegrias e as nossas tristezas, houve lugar para as desilusões, sonhamos e construímos, vivemos o que tínhamos a viver.
 

A minha grande pena foi saber que não a iria ter ao meu lado nos momentos importantes que dai para a frente iriam existir e que ela não iria mais assistir ao meu sorriso, as minhas lágrimas, que não viria os netos crescerem com todas as gracinhas que fazem uma mãe orgulhosa, em suma a minha grande pena não foi o que deixei para trás, foi o que viria na frente. Foi então que compreendi que a poderia deixar ir em paz. O remorso de não ter feito, não ter dito ou não ter vivido não cabia na nossa existência. Tirei o melhor que pude, como pude na minha medida de vida. Mais, não seria possível, porque foi assim que foi, foi assim que aconteceu.

E neste momento da minha vida, 9 anos passados, continuo a sentir que a melhor coisa que me poderia ter acontecido nessa dia foi aquela pergunta. Foi providente ter pensado nisso nesse dia, foi providente ter chegado às minhas conclusões, foi providente ter feito o meu luto e passar a outra etapa.

Agora apareceu-me outro desafio igualmente doloroso e importante. Como deixar para trás um passado cheio de sonhos e sentimentos já velhos? Será que chegou a hora de os deixar ir? Será que chegou a hora de arrumar a casa, de deitar fora uma data de cangalhada cheia de valor sentimental que não vale um caracol, só para mim, que já não serve para nada, nem para mim?

Será que chegou a altura de ganhar a liberdade de não ter um peso de um sentimento antigo a olhar para mim?

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Absolutamente Diferente.

Novamente na defesa! Cheia de escudos e esquemas.

Não é fácil gerir a quantidade de sentimentos que vêm de dentro de mim. Eles surgem puros, transparentes, verdadeiros. Infelizmente nem todos podem sair cá para fora em bruto e muitos deles têm mesmo de ser escondidos. Pergunto-me todos os dias o porquê disto ter de acontecer assim. Seria tão bom e tão mais fácil poder deita-los todos cá para fora tal e qual eles são. Seria bom para mim e seria com certeza bom para todos o que neles estão incluídos. O facto é que o ser humano complica e o que parece linear nunca o é.

Os nossos medos prevalecem e a defesa da nossa alma e do nosso ser sobrepõe-se. É nestas alturas que se inicia o processo de montagem e tratamento de qualquer reação, pensamento e ou sentimento. É triste… É um desperdício…

Sinto-me a tratar os meus sentimentos tal e qual trato as minhas fotografias. Muda-lhe a cor, muda-lhe o enquadramento, esconde o “cagalhão”, apaga a borbulha.

Resultado: ou muito melhor ou muito pior, mas absolutamente diferente.