terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Outra Margem de Mim





"É muito tempo a desejar o tempo
De mudar ventos, levantar marés
É muita vida a desejar o alento
Que faz saber ao certo quem és

É funda a toca onde te escondes tanto
Tem a distância entre o silêncio e a voz
A vida rasga bocadinhos gastos do mundo
Vai descascando até chegar a nós

A tu que sabes tanto de mim
Tu que sentes quem eu sou
Dá-me o teu corpo como ponte que me salva
Do que o medo fechou

São muitos dias a perder em vão
Sem nunca entrar dentro de um labirinto
É muita vida a não ser o que tu sentes
A planar sobre o que eu sinto

É quase noite, não te escondas mais
Vai desatando até entrar o ar
Dá-me um gesto que me diga o teu fundo
Uma palavra para te tocar

Tu que sabes tanto de mim
Tu que sentes quem eu sou
Dá-me o teu corpo como ponte que me salve
Do que o medo fechou

Tu que sabes tanto do sol
E és uma de outra margem de mim
Olha-me dentro como chão que me agarre

Pode ser esta noite quente
A estrada aberta mesmo à nossa frente
A tu e eu a descobrir o ar
Não é preciso correr
Não é urgente chegar
O que é preciso é viver "


(Mafalda Veiga)


“Não é preciso correr
Não é urgente chegar
O que é preciso é viver "

Cada vez me convenço mais de que é preciso VIVER e de viver com letra grande.

Não é virar as costas a toda a gente, não é querer ser feliz por ser.

É viver sem pressa de viver, saboreando cada bocadinho, tirando cada detalhe, enfeitando cada momento.

Não, não é preciso correr.

Não, não é urgente chegar.

Mas é preciso ir vendo e sentindo.

É preciso caminhar lado a lado com o que vamos encontrando.

É preciso ir explorando, retirando, entregando os nossos passos, ir construindo os nossos sonhos e chegar sem desatino ao nosso destino. Sem pressas, sem inquietações, de peito cheio e coração aberto.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Apontamentos


"A abelha atarefada não tem tempo para a tristeza."

(William Blake)

Mudanças


Quando eu era pequena, eram raras as vezes que me liam histórias, mas eu lembro-me que uma vez a minha Avó me começou a ler “Os Desastres de Sofia”.

Na mesma história eu conseguia rir e chorar, ficar zangada, ser benevolente, e perceber o porquê de se conseguir desculpar tanta asneira. Em suma, de ver nas entrelinhas todas os ensinamentos que nos pretendiam passar: a bondade, a razão, a dádiva, o amor prevaleciam sobre tudo.

Mais tarde li por mim, “As Meninas Exemplares, As Mulherezinhas, Os Oito Primos e até na Dona Redonda, O Principezinho” ,O Colégio das Quatro Torres, As Gémeas no Colégio de Santa Clara, e tantos outros que nos ensinavam tantas coisas boas, bonitas, simples, ….

Imagino que todos estes filmes da Disney, Bamby, Rei Leão, Dumbo, Peter Pan, bem como todos os livros de que falei, foram para nós aquilo que as pinturas das igrejas foram para os analfabetos católicos.

Ensinavam-nos a vida, a beleza, o sentimento, a bondade, a partilha, a entreajuda, eu sei lá a quantidade de coisas que nos incutiam. Sei que conseguíamos ser crianças saudáveis que dão, partilham, são humildes, olham à sua volta, sentem e ressentem-se, são fortes na sua essência, caem e não choram, dão e não sentem que estão a perder, ajudam os amigos, não os abandonam mesmo que a situação seja dura.

Tantas vezes tentei passar estas coisas aos meus filhos. Tenho todos esses livros, todos esses vídeos, eu li histórias, eu contei-lhes tantas coisas que me contaram a mim!

Até que um dia percebi que a vida não é o que era, a lei da sobrevivência hoje, não é a de ontem.

Hoje, ensinamos a agressividade, a luta, a concorrência, a exigência em forma de egoísmo, a felicidade imediata, o isolamento, o consumismo…

Por mais que me custe e que saiba que tudo isto não é o que nos dá a felicidade duradoura e eterna, não posso estar sempre a remar contra a maré.

Felicidade


"Felicidade! É inútil buscá-la em qualquer outro lugar que não seja no calor das relações humanas... Só um bom amigo pode levar-nos pela mão e nos libertar."

Antoine de Saint-Exupéry

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Perder-te


"Por te falar eu te assustarei e te perderei? Mas se eu não falar eu me perderei, e por me perder, eu te perderia."

Clarice Lispector

Sonhos


Hoje os meus sonhos foram de tal maneira reais que não consegui acordar.
Embrulhei-me neles e quase os senti na pele.
Foram bons, sinceros e eu senti-me feliz.

Estranho quando acordo e tudo não passou de um sonho. Fico à espera de mais e esse mais não vem.

Sonos


Dentro de mim tenho um mundo em guerra.

A luta interior é tão grande que mal consigo ter os olhos abertos. O sono aperta, como que a dizer-me dorme, enquanto dormes as coisas cá fora acontecem e mudam. Um dia vais acordar e tudo mudou.

Amar


"Nunca permita que um problema a ser resolvido se torne mais importante do que uma pessoa a ser amada." (Barbara Johnson)

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Sao Valentim


E porque hoje é dia de São Valentim:

«O amor é uma tentativa de penetrar no íntimo de outro ser humano, mas só pode ter sucesso se a rendição for mútua» Octavio Paz

«Só existe uma lei no amor; tornar feliz a quem se ama» Stendhal

Não há disfarce que possa esconder por muito tempo o amor quando este existe, nem simulá-lo quando este não existe» La Rochefoucauld

«Quando não se ama demais, não se ama o suficiente» Roger Bussy-Rabutin

Ausência


"Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus
[braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim."

(Carlos Drummond de Andrade, in 'O Corpo')

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Tempestade


A Tempestade que me assola hoje é grande.

Não sei quanto tempo vai demorar ou mesmo se algum dia vai passar.

Não sei quais os estragos que vai provocar se são irreversíveis ou não.

O tempo o dirá.

Não consigo medir a intensidades dos ventos, o tamanho das ondas, ou a quantidade de água derramada.

A tempestade quando cai, não cai só para alguns. Cai para aqueles que nela ficaram debaixo.

Não depende de nós o tempo que nos fustiga, mas depende de nós, o abrigo que conseguirmos arranjar.

Nesta fui apanhada desprevenida, o abrigo é fraco e deixa entrar o frio que sinto, o vento que me açoita e a água que me escorre pelo corpo. Mas é assim que aprendemos a ser mais fortes e a escolher os nossos abrigos, pois são neles que nos protegemos, que nos resguardamos, nos aconchegamos e nos sentimos mais, ou menos seguros.

Hoje sinto-me como o porquinho preguiçoso, que acreditou na vida e não se protegeu, não se escudou.

Amanha se a tempestade se acalmar vou começar a construir a minha casa de tijolo. E se a tempestade nunca passar pelo menos vou poder descansar e sossegar um bocadinho. Se ela passar, uma certeza eu vou ter é que nunca mais me vai apanhar novamente desprevenida e sem abrigo.

Estas são as verdadeiras consequências das tempestades que passam pelas nossas vidas. Os escudos são levantados ao menor sinal de alerta.

Mas acredito plenamente que depois das tempestades vêm as bonanças. E que os boletins metrológicos são cada vez mais sofisticados e nos dão os sinais de alerta com a antecedência suficiente para nos protegermos e que estas desgraças fazem os povos ficar mais fortes, unidos e solidários e que a reconstrução é feita com bases mais sólidas, técnicas mais duradouras e resistentes.

Neste momento preciso de acreditar que assim seja.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Sono


Ohhh! Fico com sono sempre que tento pensar um bocadinho mais à seria na minha vida.

Já estou a cair com a cabaça no teclado. É o que me acontece quando não quero pensar.

Quando sei que pensar não me vai trazer coisas boas ou decisões de feição.

São partes ou fases da minha vida que prefiro que fiquem adormecidas. Pelo menos até eu ter coragem de pensar no que elas são na realidade, no que elas significam, no que eu quero que elas se tornem… Para assim as poder resolver e tomar decisões com cabeça e a dita coragem.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Jackpot?


Vão caindo que nem fichas. São umas a seguir às outras.

Os pontos vão somando. Até quando, não sei.

Será um dia Jackpot?

Quem sai a ganhar ou a perder, a vida o dirá!

De cada vez que cai uma ficha é menos uma que fica, mas mais uma que vai somando.

Das duas três, ou se chega ao fim das fichas e não se ganhou nada, e pronto… Ficou por ali, naquele misto de triste/infeliz/vazio! Que é sempre o mais provável!

Ou paramos de jogar antes que as fichas se percam todas.

Sou apologista do deixar de jogar. Mais vale algumas na mão do que nenhuma para contar a historia. Mas para isso é preciso aquela força… Aquela que geralmente nos falta. Aquela que é um misto de força de vontade, com coragem, com grandeza, com dignidade, sem pena, confiante.

Mas, e saber onde parar?

Há ainda a sorte grande. O grande Jackpot… Sempre o menos provável.
Verdade seja dita. Quem não arrisca não petisca!

Assim quem saberá qual dos caminhos a seguir?

Será que algumas das decisões é errada? Será que alguma é a certa?

Prós e contras existem em cada uma delas, isso é certo.

Socorro! Onde está o livro de instruções? Onde estão as soluções?

:)


E ontem, o fim do dia foi assim...